Ludibriando a audiência com a ajuda do UOL Educação

Por Miguel Nagib *

Ouvido pela reportagem do UOL Educação, o consultor em educação sexual Marcos Ribeiro foi categórico: a escola é, sim, lugar para falar sobre sexo (para ler a matéria, clique aqui e aqui).

Para quem não se lembra, Marcos Ribeiro é autor do livro “Mamãe, como eu nasci?”, dirigido a crianças de 7 a 10 anos, e de cuja 2ª edição reproduzimos as seguintes passagens:

“Olha, ele fica duro!
Certo! Isso acontece de vez em quando.
O pênis do papai fica duro também?
Algumas vezes, e o papai acha muito gostoso. Os homens gostam quando o seu pênis fica duro.”

“Aí os espermatozóides se misturam com um líquido que se chama sêmen. Esse líquido, que é grosso e pegajoso, sai da ponta do pênis do homem. É uma sensação muito boa.”

“Se você abrir um pouquinho as pernas e olhar por um espelhinho, vai ver bem melhor.
Aqui em cima está o seu clitóris, que faz as mulheres sentirem muito prazer ao ser tocado, porque é gostoso.”

“Agora que você já sabe o que é o pênis e a vulva, vale dizer mais uma coisa.
Alguns meninos gostam de brincar com o seu pênis, e algumas meninas com a sua vulva, porque é gostoso.
As pessoas grandes dizem que isso vicia ou “tira a mão daí que isso é feio”. Só sabem abrir a boca para proibir. Mas a verdade é que essa brincadeira não causa nenhum problema. Você só tem que tomar cuidado para não sujar ou machucar, porque é um lugar muito sensível.
Mas não esqueça: essa brincadeira, que dá uma cosquinha muito boa, não é para ser feita em qualquer lugar. É bom que você esteja num canto, sem ninguém por perto.”

“Já nesse momento o pênis está duro (ereto), bem maior do que é normalmente. E a vulva também fica um pouco molhadinha.
Eles ficam bem juntinhos, bem abraçados, e, então, o homem coloca o pênis dentro da vagina da mulher. A mulher gosta muito e o homem também. O homem movimenta o pênis para dentro e para fora da vagina várias vezes com a ajuda da mulher.”

Não tivemos acesso à 3ª e mais recente edição da obra. Consta que foi revista e reformulada (veja aqui). Esperamos que as passagens acima tenham sido suprimidas.

Mas o fato é que Marcos Ribeiro pode ter evoluído em sua compreensão sobre o papel dos pais na educação moral dos filhos, como se vê do seguinte trecho da reportagem:

“O trabalho na escola deve respeitar as diferentes opiniões e realidades de cada família, conforme sua cultura ou religão. “Os valores, os limites e o que ‘pode’ ou ‘não pode’, cabe a pai e mãe”, opina Ribeiro.”

Convenhamos: para quem desqualificava a orientação dos pais dizendo que “[as pessoas grandes] só sabem abrir a boca para proibir”, e se arrogava o direito de dizer aos filhos dos outros o que é “a verdade” em matéria de moral, não se pode negar que é um avanço.

Ou melhor, seria um avanço, se não passasse, como não passa, de uma simples tentativa de enganar os desavisados.

De fato, não é possível defender, ao mesmo tempo, o respeito às diferentes opiniões e realidades de cada família, de um lado; e a veiculação da temática sexual nas disciplinas obrigatórias do currículo escolar, de outro; e é isto o que faz Marcos Ribeiro ao sugerir, em sintonia com o MEC, que essa temática seja abordada nas aulas de ciências ou biologia, português, matemática, história e geografia.

Por outro lado, é evidente que a simples decisão de tocar nesses assuntos — seja na escola, seja em casa — já envolve uma escolha moral, não sendo minimamente necessário, para caracterizar a violação ao direito dos pais a que seus filhos recebam a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções — conforme o art. 12 da Convenção Americana de Direitos Humanos –, que a escola ou o professor diga aos alunos o que “pode” e o que “não pode”: basta ver o questionário, supostamente “neutro”, que os alunos daquela escolinha de Contagem-MG tiveram de responder como dever de casa.

Mesmo porque os juízos de valor são inevitáveis uma vez que esses assuntos sejam introduzidos na sala de aula. E, não sendo possível que um prevaleça sobre o outro, os estudantes são forçados a aceitar a moral sexual dos especialistas do MEC, que se resume no seguinte: direito ao prazer desde a mais tenra idade e sexo seguro (na linha da abordagem adotada pelo próprio Marcos Ribeiro). O resto é “tabu” e “preconceito”.

Portanto, não se pode acreditar na sinceridade do autor de “Mamãe, como eu nasci?”, quando ele afirma que “os valores, os limites e o que ‘pode’ ou ‘não pode’, cabe a pai e mãe”.

Na melhor das hipóteses, o consultor em educação sexual ficou assustado com a reação da sociedade à sua obra (veja aqui um exemplo) e decidiu remodelar o discurso para ludibriar sua audiência.

Miguel Nagib é coordenador do Escola sem Partido

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