Por Fabio Lins
Fiz nova enquete na comunidade Escola Sem Partido e outras de educação sobre a influência da “tríade sagrada” Piaget-Freire-Vygotsky na educação brasileira. A pergunta foi assim formulada em todas elas:
“Há relação entre os atuais paradigmas pedagógicos e os péssimos resultados dos alunos?
Todos sabemos dos péssimos resultados em educação no Brasil. Nosso paradigma tem sido regido pela “tríade sagrada” Piaget-Freire-Vygotsky com participações menos vigorosas de outros modelos. Você considera que existe relação de causa e efeito entre este paradigma e os resultados ruins? Ou seja, será que os péssimos resultados obtidos são efeitos de anos de aplicação destes meios?”
Eis os resultados:
Comunidade “Educação”
Sim, e já passou da hora de mudar de paradigma – 47 votos (34%)
Não. As causas são bem outras – 90 votos (65%)
total: 137 votos
Comunidade “Psicopedagogia”
Sim. E já passou da hora de mudarmos de paradigma – 21 votos (33%)
Não. As causas são bem outras – 41 votos (66%)
total: 62 votos
Comunidade “Profissão Professor”
Sim. E já passou da hora de mudarmos de paradigma – 76 votos (51%)
Não. As causas são bem outras – 73 votos (48%)
total: 149 votos
Comunidade “Escola Sem Partido”
Sim, e já passou da hora de mudarmos de paradigma – 65 votos (81%)
Não, as causas são bem outras – 15 votos (18%)
total:80 votos
Minha interpretação dos dados
As comunidades mais voltadas para a teoria pedagógica são as mais avessas à idéia de que haja ligação entre teoria pedagógica e os resultados da prática pedagógica. Normalmente, vê-se pelos comentários, eles atribuem os péssimos resultados às condições do ambiente de ensino e à má compreensão das teorias mencionadas por parte dos aplicantes. Em suma, eles acham que os maus resultados ocorrem não por causa do paradigma que seguem, mas por causa de sua incompleta ou errônea aplicação.
Nas comunidades mais práticas, a de professores e a ESP, que é constituída predominantement de alunos, a perspectiva é oposta. Consideram que essas teorias têm sim parte considerável nas causas da falência da educação brasileira, julgando, possivelmente, que os resultados são reflexo da tentativa de aplicação de teorias ou inaplicáveis, ou ultrapassadas, ou equivocadas (não são tão explícitos nos comentários os possíveis defeitos da teoria). Ou seja, nas comunidades que votaram mais no “sim”, a percepção parece ser que “tem algo errado com a teoria, mas pouco importa ficar tentando descobrir o que seja, temos que encontrar outro modelo mais eficiente”.
Curioso também que nas comunidades “Educação” e “Profissão Professor” a margem de vitória respectivamente do “Não” e do “Sim” não é muito grande. Já nas comunidades “Psicopedagogia” e “Escola Sem Partido” as opções vitoriosas o são por margens de maior expressão. Qual o significado disso?
A comunidade Psicopedagogia constitui-se de profissionais que trabalham mais de perto com os autores mencionados. São a referência direta para muitos e autoridades maiores.
A comunidade Educação constitui-se de pessoas interessadas na Educação entre profissionais de especialidades diferentes e cidadãos de todo tipo. O “status” dos autores ali se dilui entre profissionais especializados, leigos e alunos.
A comunidade Profissão Professor é composta principalmente de professores. Estes são os responsáveis pela tarefa de “pôr a teoria na prática”. Estão, portanto, mais cientes das limitações do dia-a-dia ao mesmo tempo que conhecem a teoria e seus ideais. O “sim” ganha por uma margem pequena, mas que demonstra uma leve consciência de que, mesmo que o modelo atual não seja de todo mal, um modelo novo e mais eficiente seria bem-vindo em face da problemática do cotidiano.
Já a comunidade “Escola Sem Partido”, altamente conscientizada de questões ideológicas na educação, identifica claramente um viés ideológico nestas teorias que se substituem a verdadeiras práticas pedagógicas, cuja falta produz então os péssimos resultados conhecidos. Ou seja a “conscientização” e a preparação para a ‘cidadania’ e demais propostas estariam, segundo os resultados das pesquisas e testes, substituindo-se à educação propriamente dita e sendo mesmo contrários a ela.