Por Thomas Sowell
Uma das razões pelas quais nossas crianças estão aquém, academicamente, das de outros países, é o tempo excessivo que é gasto nas salas de aulas americanas, com distorções de nossa história, por motivos ideológicos.
O que você sentiria, se fosse índio americano, ao ver os invasores europeus tomando sua terra? É o tipo de questão a que nossas crianças estão expostas nas escolas. Esse é um caso clássico de olhar para o passado com as suposições – e a ignorância – do presente.
Umas das coisas que se aceitam naturalmente hoje em dia é que é errado tomar a terra de alguém por meio da força. Nem os índios, nem os invasores europeus tinham essa concepção.
Ambos tomavam a terra de outros pela força – como faziam os asiáticos, os africanos etc. Os índios, sem dúvida, lastimam a perda de muitas batalhas. Mas, isso é completamente diferente de dizer que eles consideravam as batalhas uma forma errônea de determinar a propriedade da terra.
As crianças de hoje não têm a menor possibilidade de se colocar no lugar dos índios de séculos atrás – com a visão-de-mundo deles – sem um conhecimento de história infinitamente maior do que é hoje – ou foi no passado – ensinado por nossas escolas.
Tampouco a compreensão da história é o objetivo de tais questões. O propósito é vencer a guerra contra a sociedade Ocidental. Em resumo, a propaganda substituiu a educação como o objetivo de muitíssimos de nossos “educadores”.
As escolas são não as únicas instituições que distorcem a história para ganhar alguns pontos na guerra ideológica. “Nunca se esqueçam que eles possuíam muitos escravos” é uma enorme manchete de primeira página da seção de crítica literária do The New York Times, da edição do dia 14 de dezembro [de 2003]. Na página interna há uma condenação de George Washington e de Thomas Jefferson.
De todos os fatos trágicos sobre a história da escravidão, o mais impressionante para um americano atualmente é que, apesar da escravidão ter sido uma instituição presente em todo o mundo, por milhares de anos, em nenhum lugar do planeta ela foi uma questão controversa antes do século XVIII.
Indivíduos de todas as raças e cores foram escravizados – e escravizadores. Indivíduos brancos eram comprados e vendidos como escravos ainda no Império Otomano, décadas depois dos negros americanos terem sido libertados.
Todo mundo odiava a idéia de ser escravizado, mas poucos tinham qualquer reclamação a respeito de escravizar outros. A escravidão não era um assunto nem entre intelectuais, nem entre líderes políticos, até o século XVIII – e, a partir de então, apenas no seio da civilização ocidental.
Dentre aqueles que se tornaram contrários à escravidão no século XVIII estavam George Washington, Thomas Jefferson, Patrick Henry e outros líderes americanos. Você pode pesquisar todo o século XVIII na África, na Ásia ou no Oriente Médio sem encontrar lá uma rejeição minimamente comparável.
Mas, quem é singularizado pela sarcástica crítica atual? Os líderes americanos do século XVIII.
Decidir que a escravidão era uma coisa errada foi muito mais fácil do que decidir o que fazer com milhões de pessoas provenientes de outro continente, de outra raça, e sem qualquer preparação histórica para viver entre cidadãos livres, numa sociedade como a dos EUA, onde eles constituíam 20% de toda a população.
Fica claro, pela correspondência pessoal de Washington, Jefferson e muitos outros que sua rejeição moral da escravidão era inegável, mas a questão prática do que fazer então, os deixou perplexos. E a situação permaneceu assim por mais de meio século.
Em 1862, um navio transportando escravos da África para a América, violando o banimento do comércio internacional de escravos, foi capturado. A tripulação foi presa e o capitão foi enforcado nos EUA – apesar de a escravidão ser ainda legal tanto na África quanto nos EUA naquele tempo.
O que isso nos diz? Que escravizar pessoas era considerado uma abominação mas, o que fazer com os milhões de pessoas que foram previamente escravizadas não estava igualmente claro.
Essa questão foi finalmente respondida por uma guerra na qual uma vida foi perdida por cada seis pessoas libertadas. Talvez, aquela teria sido a única resposta. Mas, não façamos de conta, hoje, que tenha sido uma resposta fácil – ou que aqueles que se debatiam com o dilema no século XVIII eram especialmente vilões, enquanto muitos líderes e muitas pessoas em todo o mundo, não viam nada de errado na escravidão.
A propósito, a edição de setembro [de 2003] da National Geografic contém um artigo sobre milhões de pessoas que, ainda hoje, são escravizadas em todo mundo. Mas, onde está a indignação moral contra isso?
Publicado por Mídia Sem Máscara, em 09/08/2006