Por Reinaldo Azevedo
Juro que não se trata de uma brincadeira
Um leitor me mandou cópia de um e-mail, que segue abaixo. Omito os dados que possam identificar tanto quem me enviou a cópia como a fonte primária do convite. Uma pessoa, que vai defender uma tese na Faculdade de Educação da USP, convida seus colegas para o evento. Olhem: vou me dispensar de fazer comentários. Tudo é tão eloqüente… Segue sem reparos. Inclusive na inculta e bela. O que vai abaixo explica por que chegamos aqui.
(…)
Para: alunopos@fe.usp.br
Assunto: [POS-GRADUANDOS – FEUSP] Convite para defesa.
Car@s coleg@s, convido-@s a assistirem a defesa de minha tese que
acontecerá no dia 28 de maio às 9:00 hs na sala 116-B – FE/USP (Área
de concentração: Ensino de Ciências e Matemática).
Um grande abraço
(…)
SANTOS, Benerval Pinheiro. 2007. Paulo Freire e Ubiratan D’Ambrosio:
contribuições para a formação do professor de matemática no Brasil. São Paulo, Faculdade de Educação/USP. (Tese de Doutorado).
Resumo
Nossa investigação é uma pesquisa teórica de cunho histórico-filosófico-educacional, que tem como objetivo principal discutir as contribuições de Paulo Freire e de Ubiratan D’Ambrosio para a formação do professor de matemática no Brasil. A dialética e as técnicas de análise de conteúdo constituem a metodologia adotada. Desse modo, nos impusemos como tarefa analisar a formação do professor de matemática de modo contextualizado com a nossa realidade social atual e reconstituindo a função histórica que a nossa escola e a formação docente desempenharam como reforçadora das desigualdades sociais e mantenedoras do status quo da sociedade capitalista.
No levantamento histórico, utilizamos as contribuições de G. Freyre, S. B. de Holanda, C. Prado Júnior, L. Basbaum, C. Furtado, F. de Azevedo, J. K. Galbraith, O. de O. Romanelli, A. Teixeira, entre outros. E, em nossa análise, nos valemos das contribuições de K. Marx, F. Engels, A. Gramsci, M. Chauí, L. Althusser, J. Contreras, O. Skovsmose A. Ponce, M. Gadotti, K. Kosik e outros referenciais próprios da área.
A formação do professor de matemática é vista como resultado de um processo histórico-cultural que mantém ainda uma forte herança de elementos de uma sociedade colonial, corroborado pela não participação democrática do povo brasileiro em seu processo de constituição sócio-cultural numa sociedade capitalista e excludente.
E o trabalho demonstra que os atuais processos de formação de professor de matemática ainda são fortemente sedimentados numa formação alienada aos ditames de uma sociedade de classes, que não permite ao futuro professor compreender e fazer uso da necessária autonomia inerente à sua atuação, o que o faz atuar como um intelectual orgânico a serviço da consolidação da hegemonia da classe dominante. Nesse sentido, os constructos teóricos de P. Freire e de U. D’Ambrosio mostram-se como indicadores de encaminhamentos possíveis no processo de formação de um professor de matemática crítico/libertador e, por isso, consciente de sua tarefa como agente ativo na formação de um educando não especialista em matemática, mas inserido em sua realidade social como um sujeito transformador e em transformação, que encontra na matemática uma ferramenta para o processo dialético de sua própria construção.
Assim, a investigação indica a necessidade de uma atuação dos formadores no sentido de conscientizar os futuros professores de matemática de sua tarefa como intelectuais orgânicos a serviço da construção da hegemonia dos excluídos, dos explorados em geral. Ou seja, a investigação aponta a necessidade de a formação inicial se constituir como um antidiscurso ao discurso ideológico da classe dominante.
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