Basta que os alunos relatem nas redes sociais não só os problemas estruturais da escola, mas também o que escutam de seus professores militantes entre as quatro paredes das salas de aula. Abaixo, reportagem da Folha de São Paulo publicada em 07.10.2012.
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Alunos criam páginas na web para ‘dedurar’ escolas
‘Diário de classe’ vira febre entre estudantes do país ao denunciar problemas
Inspirados em garota catarinense, jovens conseguem obter melhorias; outros sofrem represálias
NATÁLIA CANCIAN
DE SÃO PAULO
Paredes sustentadas por escoras, janelas quebradas, fiação exposta e refeitório fechado na hora da merenda. Imagens de problemas como esses começam a se espalhar nas redes sociais.
Inspirados pela catarinense Isadora Faber, 13, estudantes de todo o país criaram seus “diários de classe” na web para mostrar as deficiências estruturais e pedagógicas das escolas públicas em que estudam.
Isadora foi pioneira com sua página sobre uma escola municipal de Florianópolis.
Ganhou apoio de mais de 300 mil pessoas na internet e, após receber críticas, a instituição foi reformada.
Desde então, a ideia se espalhou. A Folha localizou ao menos 30 páginas. Alguns estudantes relatam melhorias. Outros, represálias.
A escola de Emerson Mendes, 17, em Itamaraju (BA), ganhou cortinas para bloquear a luz do sol que atingia os alunos e os impedia de ver as anotações na lousa. Também voltou a ter lanche, que não era servido havia dois meses.
As portas do banheiro feminino, que estavam soltas, foram consertadas. “Mas ainda temos fechaduras quebradas e fiação exposta”, diz.
A Secretaria de Educação da Bahia diz que fará reformas no local.
Aluno de uma escola de Maceió (AL), Juan Douglas de Sá, 13, chamou a atenção para um bebedouro quebrado e para os laboratórios que não eram usados. Deu certo.
Mas nem todas as iniciativas são bem recebidas.
“Falaram que eu estava deixando a escola com um telhado de vidro” ao publicar os problemas, conta Cristiano Aro, 16, de Cotia (SP).
Aluno do 2º ano do ensino médio em Curitiba, Igor Castro, 18, conta que sofreu represálias de uma professora, que o aconselhou a mudar de escola. “Parece que querem que os problemas sejam escondidos”, diz o aluno, que também foi chamado para conversar com o diretor.
“Pedi que ele apagasse alguns comentários ofensivos. Se o objetivo é melhorar a escola, ele não pode deixar que isso se perca”, conta o diretor, Joaquim Faustinoni.
Para Vania Kenski, professora de pós-graduação em educação na USP, as escolas precisam aprender a lidar com o uso da tecnologia. “Estamos em um processo marcado pela transparência do que acontece atrás dos muros da escola. É uma nova forma de cultura. E é irreversível.”
Diretora da ONG Todos Pela Educação, Priscila Cruz diz que os “diários de classe” devem se preocupar também em apontar soluções e pontos positivos, e não apenas em expor os problemas.