O primeiro problema que tive na escola municipal Padre Serafim Martínez Gutierrez, em São Paulo-SP, foi com disseminação de notícias falsas. Ano passado uma professora de geografia iniciou uma discussão sobre a privatização do aqüífero Guarany. Disse aos alunos que o presidente Michel Temer teve um encontro com os donos da Coca Cola e Nestlé, e estava negociando a concessão para exploração da reserva. Na semana seguinte questionei esse posicionamento por se tratar de uma notícia falsa. Fiz um apelo para que os debates continuassem a acontecer, porém, com notícias reais, dados científicos, resultados de pesquisas.
Após essa minha manifestação, percebi segundo relatos de minha filha que o tratamento com ela mudou um pouco. Conversamos muito em casa, lemos juntos, estudamos sempre que possível assuntos do cotidiano, principalmente política e história. Faço o possível para transmitir os valores que uma pessoa precisa para ser um cidadão de bem.
O segundo problema veio sobre a crise na Venezuela. A mesma professora de geografia iniciou uma discussão sobre a Venezuela afirmando que era tudo falso. Que apenas 2000 pessoas saíram da Venezuela; que não havia socialismo, era tudo uma invenção da mídia que estava a serviço do imperialismo americano que queria tomar as reservas de petróleo.
Estou um pouco atualizado sobre o assunto e preocupado com o desempenho de minha filha em algumas disciplinas fui até a escola para conversar com a coordenadora pedagógica. Fiz um breve relato sobre o que acontece na Venezuela, ouviram caladas. Questionei novamente sobre a disseminação de conteúdo falso em sala de aula e que tanto a verdade como a mentira podem influenciar a cabeça de jovens… Principalmente a mentira. Questionei os métodos de matemática, porque minha filha simplesmente não aprende matemática. A professora de geografia já citada não participou da reunião por conta de dar aula em outra escola e a de matemática participou, alegou a dificuldade de ensinar, a falta de compromisso de alguns alunos em aprender. Isso tudo antes das eleições de 2018.
Terceiro ponto. Admito sem vergonha alguma minha orientação como cidadão. Sou cristão, conservador, hétero, a favor do porte de armas e eleitor de Jair Bolsonaro. Minha família compartilha das mesmas ideias sem qualquer imposição de minha parte. Minhas três filhas engajaram na campanha dele por acreditar que os valores, os bons princípios e a educação são a chave para a sociedade prospera. Após elas manifestarem o seu posicionamento político passaram a ser vistas com desconfiança mas sem discriminação.
Em uma aula de matemática no 7 ano minha filha protagonizou um fato que achei absurdo. Um aluno especial ficou agitado e chorou para ir embora. A professora disse que se o homeschooling de Jair Bolsonaro sair do papel ele não precisaria ir mais para a escola, pois, com isso os professores não teriam mais emprego.
Minha filha relatou que 2 meninos não gostaram do comentário e discutiram com a professora. Ela passou 25 minutos debatendo só política com alunos de 14 anos. Fica evidente a diferença de bagagem entre ambos. As meninas gravaram o áudio da discussão e estava bem ruim. Após as eleições ficou muito comum discutir com alunos por causa da eleição do presidente Bolsonaro.
Quero deixar claro que respeito as escolhas das pessoas, porém, está muito evidente que alguns professores estão dispostos a atacar alunos com pensamentos ou posicionamento diferentes. Disseminar conteúdo falso para tentar mudar o pensamento das crianças dica evidente. Quase todos os dias eles trazem anotações de frases ou conversas em sala neste sentido de proselitismo. Este rascunho, por exemplo, foi feito por minha filha de 12 anos que está no sétimo ano.
Alguns professores partidários de esquerda tentam convencer os alunos de suas utopias socialistas. Respeito as escolhas de cada um, porem, sabemos muito bem pela história o que essas ideologias fizeram por onde passaram. Sei que sou apenas mais um com esse tipo de relatório. Mas estou muito preocupado com os efeitos negativos que pode ter nos alunos e para o futuro. Peço desculpas se me estendi demais. Sou favorável ao seu projeto, gostaria de conhecê-lo mais a fundo. Muito obrigado pela atenção.
RESPOSTA ENVIADA PELA DIRETORA DA EMEF PADRE SERAFIM MARTÍNEZ GUTIERREZ, EDINETE SILVA, EM 24.03.2019:
Boa tarde!! Sou Edinete, Diretora da EMEF PE Serafim M. Gutierrez e quero agradecer a oportunidade de resposta a este pai que protestou a aula da professora de Geografia. Infelizmente ele preferiu este canal para externar sua insatisfação, gostaria de ter tido a oportunidade de esclarecer pessoalmente, como faço com todos que me procuram quando se mostram insatisfeitos com algo. A EMEF PE Serafim preza pela satisfação é o esclarecimento das duvidas aos pais e responsáveis. Criticas construtivas nos fortalecem enquanto gestão democrática, mas neste caso o que houve foi uma má interpretação do processo de ensino aprendizagem.
Pai história e geografia tem como objetivo levar o estudante a observar e interpretar a realidade para, assim, interferir nela. Ele precisa entender as permanências de elementos históricos, como construções e hábitos que se iniciaram no passado, e as influências deles na atualidade. Além de identificar quem são eles, é necessário enxergar quem os causou e perceber-se como um “agente histórico”
O cruzamento entre as duas disciplinas história e geografia é inevitável, vistas que as mudanças físicas se dão ao longo do tempo também por influência humana.
A história se renova a medida dos acontecimentos, não é possível ensinar sem informar todos os lados do ocorrido, só assim o estudante poderá se apropriar dos fatos e construir o conhecimento.
São várias as ferramentas utilizadas pelo professor para que o estudante note a mudança da história, da paisagem como consequência da ação humana identificando de que maneira nos afetam.
Fique tranquilo com relação a aquisição do conhecimento do seu filho, a formação do seu caráter e sua formação religiosa é de responsabilidade da família. Sabemos disso e não vamos interferir, somos profissionais bem formados e sabemos respeitar essas questões.
Não queremos vê-lo triste e insatisfeito, queremos que compreenda o processo de ensino aprendizagem.
Peço que confie no trabalho realizado pelos professores da nossa EMEF. Esse trabalho vem colhendo bons frutos…somos o maior índice do IDEB da DRE-Penha, recebemos elogios por órgãos oficiais por ser a escola que colocou muitos alunos nas ETECs, demonstrando à preocupação de toda equipe em formar cidadãos com condições de mudar suas vidas, os preparando para serem produtivos, os preparando para o trabalho. Já comemoramos a entrada de alunos na USP. Portanto….continue nos dando um voto de confiança em nosso trabalho. Quanto a formação do caráter e religiosa temos plena certeza que está fazendo com excelência. Sua preocupação demonstra isso. Espero ter esclarecido todo desconforto. Obrigada
RÉPLICA APRESENTADA PELO PAI DA ALUNA, EM 25.03.2019
Gostaria de agradecê-la pela preocupação e peço desculpas se causei algum transtorno. De forma alguma deixarei de reconhecer o trabalho exercido pelos professores da escola na qual minhas filhas estão matriculadas e será uma das bases formadoras das futuras cidadãs brasileiras que elas são.
Volto a reiterar a minha posição sobre a preocupante disseminação de conteúdo falso. Os temas abordados em meu relato, o questionamento sobre a notícia falsa do aqüífero Guarany, a notícia falsa sobre a crise na Venezuela que não foi corretamente passada aos alunos. Sou e sempre serei a favor do debate público, escolar e acadêmico.
O compartilhamento de ideias e o confronto sadio são fundamentais na formação de opinião. Sempre confiei e vou continuar acreditando sim no ensino brasileiro. Fico muito feliz e agradecido pelas considerações da diretora.
Também sou grato ao trabalho feito pela escola e pelo tratamento com os alunos. Infelizmente a correria do dia-a-dia não permite que possa estar presente na escola nos horários adequados e com espaço na agenda da diretora para tratar de assuntos assim. Muito obrigado a todos pelo empenho neste caso. Tem sim o meu voto de confiança Sra. Edinete. Essas são minhas considerações finais. Muito obrigado!