A reportagem abaixo foi publicada na Folha de São Paulo, edição de 5 de setembro de 2001.
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A praga do politicamente correto nos livros didáticos muitas vezes descontextualiza fatos e personagens históricos. Essa é a opinião da professora Vânia Leite Fróes, da UFF (Universidade Federal Fluminense).
Vânia pesquisa principalmente o período medieval e aponta como um dos erros mais comuns dos livros didáticos a interpretação anacrônica de fatos históricos. “Muitos livros tratam personagens históricos mulheres como precursoras de um feminismo. É absurdo você falar dessa visão na Idade Média. Essa é uma problemática que surge para o historiador nos anos 60”, diz.
Um exemplo citado por Vânia é o tratamento dado para Heloísa, cuja história ficou conhecida como a de um amor proibido com Abelardo. “Dizer que Heloísa era feminista reflete uma concepção da história mascarada pelo politicamente correto”, diz.
Além do politicamente correto, os historiadores citam casos como o da Guerra do Paraguai (1865-1870), onde,
na opinião de Manolo Florentino, da UFRJ, a história é ensinada de maneira “engajada”.
“Em geral, o presidente paraguaio na guerra, Solano López, é tratado como herói progressista, portador de uma luta antiimperialista na América do Sul. Muitos historiadores paraguaios até acham graça dessa visão de um caudilho sul-americano”, afirma o pesquisador.
A reportagem da Folha encontrou exemplo dessa visão da Guerra do Paraguai no livro “História e Reflexão”, de
Gilberto Cotrim, editado pela editora Saraiva e que é um dos mais indicados por professores da rede municipal
de educação do Rio de Janeiro.
Holien Bezerra, avaliador do MEC de livros de história, diz ter detectado, na primeira avaliação realizada pelo
ministério, um problema recorrente de enquadramento do conteúdo dentro de apenas uma visão historiográfica, a
marxista. “Mas essas falhas estão diminuindo ao longo das avaliações”, acrescenta Bezerra.