Dom Aloísio Roque Oppermann *
Tendo contactos periódicos com acadêmicos de várias faculdades, descobri que, além dos bons professores, existem nas escolas superiores aqueles que praticam um apostolado ao inverso. São evangelizadores ao contrário. Procuram extinguir a fé sob a alegação de espírito aberto. Dando uma de modernos, exigem que os alunos façam resumos de livros de escritores decididamente ateus, como Crick, Hawkings, Marx, Freud. São apóstolos do ateísmo.
Jamais vi esses mestres da dúvida mandarem ler “A linguagem de Deus” de Francis Collins, ou “A fé e a razão” de João Paulo II, ou ainda “Jesus de Nazaré” de Joseph Ratzinger. Quando os alunos são forçados a ler a cartilha agnóstica, podem não concordar com seus ditos. Como não há quem lhes explique a verdade, sobra no seu espírito uma ponta de dúvida que, muitas vezes, se traduz em esfriamento da fé.
Concordo que os próceres da vida sem Deus tenham a liberdade de existir, e continuem fazendo o esforço árduo de provar que o Criador não existe. Entre eles, especialmente os mais abertos – eles existem – apareceram algumas dúvidas. As grandes profecias do ateísmo, sombrias, falharam.
Feuerbach previu a “morte da religião”. Os dez milhões de romeiros, que frequentam Aparecida anualmente, o desmentem.
Freud, Marx e Nietzche, com absoluta certeza, prognosticaram a “substituição da religião” e a “morte de Deus”. Os milhões e milhões de jovens nas Jornadas Mundiais da Juventude, que se reúnem nos encontros internacionais, nem tomam conhecimento da profecia.
As tragédias do século XX, sim, fizeram morrer o socialismo ateu. Este parecia ter fôlego de gato, mas estertorou em asfixia mortal. Na Rússia houve uma inversão do “ópio do povo” atribuído à religião. Agora é o marxismo que é acusado de ser droga para enganar o povo.
O “Catecismo da Igreja Católica” vendeu vários milhões de exemplares, num mundo que se dizia farto de religião. E pode-se crer na presunção dos arautos da vitória da “ciência”, que vaticinaram a regressão irreversível da fé, diante dos funerais do Papa João Paulo II?
Nunca mais multidões se reunirão em tão grande número. “O profeta que fala com presunção, não o temais” (Dt 18, 22).
Todos recomendam aos ateus profetas mais cautela. Agora, se quiserem dialogar, estamos abertos.
Arcebispo de Uberaba (MG).