Por Max Golgher *
A Comissão de Relações Públicas da Federação Israelita de Minas Gerais (Fiemig) detectou no ano passado, intenso antijudaismo e reprodução de virulenta propaganda antiisraelense veiculada em livros do ensino médio, largamente usados em escolas particulares: “História Moderna e Contemporânea”, 14ª edição, 2002, Alceu L. Pazzinato & Maria Helena V. Senise, Editora Ática, Rua Barão de Iguape, São Paulo, SP, e “Nova História Crítica” Mario Schmidt, 2001, Rua William Sperrs, 1.000 São Paulo, SP são dois deles.
I — Na primeira obra — de Alceu Pazzinato, observamos o esforço dos autores em desqualificar a existência de Israel, seguindo a cartilha da propaganda anti-semita disseminada pelo País, adulterando fatos e documentos a respeito do conflito:
1 — Desqualificação da Partilha de Palestina de 29.11.1947, de modo a fazer ver ao aluno a suposta injustiça realizada contra os árabes na decisão da ONU, ao afirmar que os árabes palestinos não foram consultados pela Comissão Especial da ONU – UNSCOP para a Palestina, grupo de 11 paises membros autores da proposta de sua partilha. Desse modo, apresenta o autor a idéia de que a divisão desse território teria sido feita à revelia do povo árabe, induzindo o leitor a crer na sua intrínseca injustiça. Vale dizer, que a guerra de destruição de Israel teria uma causa justa: uma iniqüidade da ONU. Escamoteia, tal qual a propaganda, a reunião entre a UNSCOP e representantes de países árabes, realizada em julho de 1947, em Beirute, no Ministério de Relações Exteriores, quando deram a resposta final sobre o assunto: não à autodeterminação do povo judeu da Palestina, exigindo-a, sob ameaça de guerra, exclusivamente árabe e islamítica.
2 — Divisão territorial da Palestina britânica: Induz o autor ao aluno crer que a oferta da ONU de 14 mil km2 para 700 mil habitantes judeus, enquanto destinava a 1,2 milhão de habitantes árabes, apenas 11 mil km2, certamente, uma iniqüidade, que justificaria, claro, guerras e atos de terror contra o Estado judeu. Ao aluno, o autor também escamoteia o fato dos 14 mil km2 de terras dos judeus serem cobertos por 12 mil km2 de terras áridas e inóspitas do Deserto do Neguev. Na verdade, cada habitante palestino receberia “per capita” o dobro de terras habitáveis de cada habitante judeu.
3 — Fraude na dimensão territorial: a campanha antiisrealense divulga com sucesso que a dimensão atual de Israel é de 89 mil km2. Ora, se sua dimensão territorial em 1949 era de 20 mil quilômetros quadrados, claro que Israel teria se expandido mais de 4 vezes. É o que afirma o colunista da “Folha de S. Paulo”, em texto exposto na Folha on-line. Claro, Israel é um país expansionista a devorar terras árabes… O autor ensina isso a centenas de milhares de alunos, numa fraude inominável: na tabela de informações à pág 351, aponta que depois da Guerra dos Seis Dias, 1967, Israel estendeu sua jurisdição para mais de 89 mil km2, indicando o aluno a ver a comprovação disso no mapa à pág. 352, que registra, na verdade, Israel atual com 20.700 mil km2. Repete a fraude da propaganda antiisraelense, que “se esqueceu” do fato deste país ter devolvido ao Egito o deserto do Sinai, em 1982… Extrapola o mapa de uma geografia física do século passado como estivesse em vigor o ano 2.000… É como apresentar em pleno século XXI, o Uruguai incluído no mapa do Brasil, como província Cisplatina… Fraude grotesca, mas é o que se ensina a alunos do ensino médio do País.
4 — Caso dos refugiados palestinos: Na pág. 350, diz o autor aos alunos: “Após serem expulsos dos territórios conquistados por Israel, quase 1 milhão de palestinos se espalharam pelos países árabes vizinhos. Aqueles que permaneceram sob jurisdição israelense perderam a maioria de seus direitos, passando a ser tratados como cidadãos de segunda categoria”, incutindo na mente do alunato que os israelenses são culpados pela existência do problema dos refugiados palestinos. Não lhes ensina a verdade. Ao revés de acolherem os asilados palestinos como cidadãos, governos árabes os mantiveram excluídos da sociedade que os recebeu, como apátridas, recolhendo-os em campos de refugiados. Já, Israel, bem recebeu os judeus expulsos dos países árabes, transformando-os imediatamente em cidadãos, com plenos direitos. Não existe em Israel nenhum caso de refugiado, seja judeu ou árabe. Os habitantes de origem árabe que permaneceram em Israel, 300 mil, durante a invasão árabe iniciada em maio de 1948 passaram a gozar de todos os direitos constitucionais, somando atualmente, 1,3 milhão de indivíduos, que podem até votar e serem votados para compor o governo do país e o Knesset, Parlamento israelense.
5 —- Rasura da Resolução 383 da ONU: o autor, repete a propaganda ensinando que a Resolução 383 da ONU resguardaria “direitos de palestinos”, quando na verdade, tais direitos estão resguardados na Resolução 181 da ONU, de 29.11.1947, que foi repudiada pelo mundo árabe islamítico. Não há a menor referência a árabes ou palestinos na Resolução 383. Faz sim referência à implementação da resolução anterior, 242 de 1967, que ordena, sim, a retirada das tropas israelenses de territórios ocupados, simultaneamente com a exigência do reconhecimento da soberania e integridade territorial, e independência política de todos os Estados da área, e seu direito de viver em fronteiras seguras, livre de ameaças e atos de força, ou seja, o reconhecimento de Israel existir, até então negado pelo mundo árabe islamítico.
II — Obra de Mário Schmidt: a) Repete a mesma propaganda antiisraelense, ao assinalar a diferença de tamanhos dos Estados que foram destinados na partilha pela Resolução 181 da ONU, a árabes e judeus, escamoteando as dimensões do deserto do Neguev, retratando-a como grande injustiça com os árabes; b) informa ao aluno que Israel trata a sua população árabe com grande crueldade, o que justificaria, claro, a luta armada contra o governo de Israel, criando a Questão Palestina…. Esqueceu-se de dizer ao aluno que nenhuma das centenas de atos terroristas, os que visam civis inocentes, foram perpetrados por cidadãos israelenses de origem árabe. Todos eles foram cometidos por radicais islâmicos vindos de fora, infiltrados pela Cisjordânia e Gaza.
III — Estes livros compõem uma fábrica de anti-semitismo diária, ao derramar sobre cada aluno com a autoridade de professores feroz propaganda antiisraelense. Conforma suas mentes na suposição da injustiça que teria sido cometida contra os palestinos, aos maltratos dos israelenses sobre a população árabe israelense, como a justificar as guerras e atos de terror contra Israel.
IV — Procuramos tomar algumas medidas urgentes iniciais: conversar com professores de história nas escolas que adotavam o primeiro livro: Colégio D. Silvério, do sistema Maristas, colégio Batista Mineiro, colégio Santo Agostinho, e o segundo livro, Colégio Isabela Hendrix,
V — Nessas conversações, constatamos: de um lado, o grande número de professores intoxicados pela propaganda anti-semita, de outro, uma reação surpreendentemente amistosa e positiva à nossa apresentação, sempre documentada. Ficaram assim de informar os alunos dos desvios apontados nos livros. Mas estamos cientes que essa fábrica de anti-semitismo é um assunto nacional, exigindo um movimento de protesto e resistência de todos para dar por fim nesta propaganda divulgada em nossas escolas privadas.
* Marx Golgher é médico em Belo Horizonte e coordenador dos trabalhos contra o uso de livros didáticos com propaganda antiisraelense nas escolas privadas de Minas Gerais