Uma Técnica de Doutrinação

O texto que apresentamos a seguir – “sugestões de atividades para sala de aula” – foi extraído do site da Sociedade Brasileira do Ensino da História – SOBENH (http://www.sobenh.org.br/sala_aula.htm).

O ensino da história, como se sabe, é aquele ao qual se dedica – no ensino médio, pelo menos – a imensa maioria dos professores preocupados em “despertar a consciência crítica dos alunos” – expressão utilizada pela militância para designar eufemisticamente o processo de doutrinação ideológica dos alunos.

Esse objetivo pode ser alcançado de diversas maneiras. Uma das mais frequentes é isolar determinado fato ou questão histórica do seu contexto específico, desconsiderando a perspectiva real dos sujeitos envolvidos. Em seguida, o professor/doutrinador estimula os alunos a opinar sobre o arremedo de questão apresentada, obtendo, com isso, uma tomada de posição prematura e infundada, cuja reavaliação custará aos alunos um investimento intelectual e psicológico que os doutrinadores bem sabem ser pesado demais para a maioria dos jovens.

Chamamos a atenção para a segunda sugestão (“Encontros e Desencontros”), um exemplo acabado do tipo de abordagem realizada em sala de aula por esses “despertadores de consciência crítica”. O autor da sugestão pré-determina claramente o conteúdo e os rumos da discussão, que só poderá terminar com a negação de qualquer espécie de superioridade dos jesuítas em relação aos índios e com a afirmação triunfante do relativismo cultural e civilizacional. A pergunta fundamental, todavia, não é feita aos alunos: como e onde estaríamos todos – inclusive eles – se não fossem esses malvados jesuítas?

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Aqui deixaremos à sua disposição algumas sugestões de atividades para sala de aula em diversos níveis. Você também poderá colaborar com esta seção, dando opiniões, críticas e sugestões. Talvez você tenha mais alguma aplicação interessante para uma de nossas atividades. Ou talvez você tenha alguma atividade que aplicou e gostou e que seria interessante divulgar para outras pessoas. Pois este é o espaço para isso.

Para começar, temos aqui três módulos que estudam a questão indígena, cuidadosamente elaborados pelos professores Cláudio Vicentino e Gilberto Cotrim. Aproveite, porque essas atividades não estão nos livros.

Sugestão de Atividades em Sala de Aula

1- …

2- ENCONTRO E DESENCONTROS

O jesuíta Antonio Ruiz de Montoya escreveu Conquista Espiritual, livro que foi publicado em Madri, em 1639. O título original, Conquista Espiritual Hecha por los Religiosos de la Compañia de Jesus en las Provincias del Paraguay, Parana, Uruguay y Tape, ganhou a seguinte tradução para o português: Ruiz de Montoya, Antonio. Conquista Espiritual Feita pelos Religiosos da Companhia de Jesus nas Províncias do Paraguai, Paraná, Uruguai e Tape (Porto Alegre: Martins Livreiro), 1997, 2ed. As indicações para este “sala de aula” apoiaram-se nos comentários sobre Montoya do seguinte artigo: Kern, Arno Alvarez. “Tradição e Transformações Históricas nas Fronteiras Coloniais: Jesuítas, Guaranis e Sexualidade” in História: Fronteiras (Florianópolis: Simpósio Nacional da Associação Nacional de História, São Paulo: Humanitas/FFLCH-USP: ANPUH), 1999 p. 261.

Na descrição de Montoya sobre a sua chegada na área colonial e missioneira (Guairá ou Guaíra) transbordam as posições contrastantes sobre o encontro com os guaranis:

“Vivi […], por assim dizer, no deserto, em busca de feras, de índios bárbaros, atravessando campos e transpondo selvas ou montes, em sua busca para agregá-los ao aprisco da Santa Igreja e ao serviço de Sua Majestade. E de tais esforços, unidos aos de meus companheiros, consegui o surgimento de treze “reduções” ou povoações. Foi, em suma, com tal afã, fome, desnudez e perigos freqüentes de vida, que a imaginação mal consegue alcançar. Certo é que nessa ocupação exercida parecia-me estar no deserto. Porque, ainda que aqueles índios que viviam de acordo com seus costumes antigos em serras, campos, selvas e povoados, dos quais cada um contava de cinco a seis casas, já foram reduzidos por nosso esforço ou indústria a povoações grandes e transformados de gente rústica em cristãos civilizados com a contínua pregação do Evangelho. Porque, digo, com tudo isso, por […] estar obrigado por força das circunstâncias a sempre lidar com o idioma índio, veio a formar-se em mim, um homem quase rústico e alheio à cortesia da linguagem”.

 

A conquista espiritual teria sido a salvação indígena?

Primeiro Passo: Apresentar aos alunos o texto acima (no quadro, impresso, transparência, etc.) fazendo uma leitura conjunta cuidadosa para a compreensão do texto, firmando condições para as discussões seguintes.

Segundo Passo: Problematizar passagens do texto, destacando o contexto histórico, atraindo a atuação dos alunos para posicionamentos e participação. São várias as afirmações com claro sentido “civilizador” pretendido pelo colonizador dos “espíritos”, firmando a posição de conquistador/superior.

Entre outras passagens com forte sentido discriminador frente o “Outro” nativo, possíveis de serem questionadas estão: “deserto”, “índios bárbaros”, “gente rústica”, “cristãos civilizados”, “alheio à cortesia”, etc. Discutir com os alunos tais passagens abre possibilidades para relacionar com outras discussões já desenvolvidas com os alunos, seja durante o ano ou em anos anteriores. Exemplo disso é resgatar debates já efetuados sobre outros temas, como Pré-História (primitivo x civilizado; pré-história x história; atrasado x desenvolvido; desenvolvimento linear progressista; bárbaros x civilizados; eurocentrismo, etc.), Gregos e os “bárbaros” persas, civilizações clássicas e Ocidente x Oriente; cristãos x infiéis; “guerra santa”; “processo civilizador”; “descoberta” da América e do Brasil; etc.

Como fechamento dessa parte da discussão, o professor passaria para os resultados da colonização, da escravização e genocídio indígena, destacando os números de mortos, a dizimação da população indígena e comentários sobre a atual situação dos seus remanescentes. Sugiro terminar tal encaminhamento com a seguinte pergunta aos alunos: os índios brasileiros de hoje, têm por que comemorar os 500 anos do Brasil?

Conseguir com os alunos as suas respostas pessoais por escrito certamente serviria para uma melhor avaliação, municiando o professor para um aprimoramento em outras atuações.

3 – …

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