A situação do ensino no Brasil: doutrinação ideológica e incapacidade de desenvolver competências

Por Luis Lopes Diniz Filho *

Desde 2007, estou elaborando um livro intitulado Quebrando a corrente: por uma crítica da geografia crítica. Um dos capítulos visa avaliar os efeitos da aplicação das idéias dessa corrente da geografia no ensino, especialmente a influência das ideologias de esquerda nos conteúdos dos livros didáticos e das aulas. Para tanto, o melhor caminho é pesquisar as representações dos alunos a respeito de temas geográficos, por meio de entrevistas ou questionários, e compará-las com as abordagens dos livros didáticos. Para demonstrar as possibilidades desse tipo de estudo, será feita agora uma comparação entre os conteúdos de dois livros didáticos que tratam de relações econômicas e políticas internacionais e as respostas dadas por alunos do ensino médio a um questionário sobre o tema.

O livro Brasil: Sociedade e Espaço, embora não trate de geografia geral, começa por caracterizar o Brasil como “país subdesenvolvido industrializado”, o que o leva a fazer uma discussão sobre as razões que explicam as diferenças nos níveis de desenvolvimento econômico e de bem-estar social entre os vários países do mundo[1]. Embora o autor afirme que essa obra trouxe uma inovação ao trabalhar com visões opostas sobre determinados temas (Vesentini, 2008), é inquestionável que o conceito de subdesenvolvimento que lhe serve de base é totalmente influenciado por teorias afinadas com ideologias de esquerda, o mesmo valendo para a discussão de problemas econômicos que estariam relacionados à situação de subdesenvolvimento.

Para começar, o autor afirma que as duas características definidoras do subdesenvolvimento são a dependência econômica e tecnológica e o alto nível de desigualdade social. Ao explicar o significado de dependência, começa dizendo que “os países subdesenvolvidos normalmente estão endividados, ou seja, vivem em regime de dívidas externas vultosas para com as grandes empresas financeiras internacionais, localizadas nos países desenvolvidos” (Vesentini, 1998, p. 9).

Não surpreende que, ao discutir qual seria a solução para o problema, o autor tenha reproduzido as mesmas teses que os economistas e políticos de esquerda que não queriam ser vistos como radicais defendiam até a época em que saiu essa edição do seu livro, quais sejam: a) que as medidas tomadas até então para pagar a dívida (recomendadas e supervisionadas pelo FMI) haviam imposto sacrifícios enormes para a população brasileira com pouco resultado, visto que a dívida havia crescido; b) que as propostas de “moratória pura e simples” já não eram viáveis num contexto histórico marcado por uma profunda internacionalização da economia, no qual a necessidade de incorporar tecnologias avançadas, produzidas nos países desenvolvidos, se impunha como uma necessidade; c) considerando que seria “quase impossível” pagar essa dívida, por conta dos juros elevados, a saída estaria em renegociar politicamente a dívida para pagá-la apenas parcialmente, por meio de reduções nas taxas de juros, perdão de parte do montante a pagar e, possivelmente, troca de pagamentos por programas de conservação da Amazônia (Vesentini, 1998, p. 33-35).

Bem, a história se encarregou de mostrar que tais ideias, de muito sucesso entre políticos e intelectuais brasileiros até 2002, estavam equivocadas. A relação dívida/PIB foi reduzida sem que houvesse qualquer renegociação que implicasse descontos no total a pagar, enquanto as recomendações do FMI continuaram a ser aplicadas sob a supervisão desse órgão. Mas o problema do livro não está na defesa de teses que foram ultrapassadas, já que ninguém é obrigado a acertar sempre, mas sim no fato do autor não haver nem sequer mencionado a existência de argumentos em favor do pagamento integral das dívidas por meio de políticas fiscais responsáveis. As visões discutidas, e apresentadas pelo livro como se fossem as únicas em debate, foram apenas a que defendia a moratória e as propostas de renegociação próprias de certos setores da esquerda que se queriam “modernos” mesmo defendendo “rupturas”. A pluralidade de visões prometida pelo livro se restringe apenas ao campo da esquerda intelectual e política!

Esse unilateralismo fica explícito quando são enumeradas as demais características definidoras dos países subdesenvolvidos, além do problema da dívida. Vesentini afirma que esses países são geralmente exportadores de produtos primários e importadores de bens industrializados, o que os deixaria “[…] em desvantagem em suas trocas internacionais, pois os artigos que importam têm preços maiores e valorizam-se mais com o decorrer do tempo” (Vesentini, 1998, p. 9). Em seguida, começa o discurso que atribui às empresas estrangeiras os males dos países “periféricos”, já que, segundo o autor, as remessas de lucros das multinacionais para as matrizes ocasionam “uma forte descapitalização (saída de capitais), além de uma constante dependência tecnológica” (idem, ibidem – itálico no original). Mais adiante, vem a pérola:

Em grande parte (mas não totalmente), a riqueza e os elevados padrões de vida no centro, nos países desenvolvidos, baseiam-se na pobreza e na exploração da mão-de-obra barata (salários internacionalmente baixíssimos e mais horas de trabalho por dia) da periferia. Isso significa que, provavelmente, sem as matérias-primas […] e os gêneros agrícolas […] que adquirem em grandes quantidades e a baixos preços nos países do Sul, os países desenvolvidos não desfrutariam de padrões de consumo tão elevados. […] Um desses “mundos”, dessa forma, não existiria sem o outro. Os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos são como duas faces de uma mesma moeda; em grande parte, são realidades complementares (Vesentini, 1998, p. 11-12).

 Várias observações podem ser feitas para demonstrar o simplismo dessas passagens. A ideia de “descapitalização”, por exemplo, parece supor que as multinacionais remetem a totalidade dos lucros de suas filiais para o exterior, como se não precisassem investir para manter essas unidades competitivas ou mesmo para ampliar a produção com o fim de obter maiores ganhos com a expansão dos mercados nacionais e internacionais. Outra observação é que o autor não questiona se uma eventual elevação dos preços das matérias-primas e dos alimentos não reduziria o poder de consumo também das populações dos países menos desenvolvidos. Mais ainda, não questiona se o aumento dos preços dos alimentos não seria prejudicial principalmente para os países mais pobres, em que há milhões de pessoas desnutridas! Bem, considerando que esse mesmo livro defendeu a ideia falsa de que a produtividade agrícola brasileira só aumenta no suposto segmento de exportação, vê-se que um equívoco acaba sustentando o outro. Uma última observação que vale a pena mencionar é que, embora tendo afirmado que os padrões de vida no “centro” não se devem exclusivamente à suposta “exploração” da mão-de-obra barata na “periferia”, o autor não se preocupa em dizer quais seriam os fatores endógenos que explicariam, até certo ponto, a melhor situação social nos países desenvolvidos.

Obviamente, o autor poderia objetar que esse livro, sendo um manual de geografia do Brasil, não poderia aprofundar a discussão de questões de geografia geral. Todavia, é inegável que a caracterização do Brasil como “país subdesenvolvido industrializado”, bem como a afirmação de que os países desenvolvidos devem seu padrão de vida, em grande parte, a mecanismos de exploração, revelam que os conteúdos desse livro são pautados unilateralmente por ideologias de esquerda e teorias afinadas com essa linha ideológica. Isso não só contradiz a intenção pluralista anunciada pelo autor como serve de evidência para demonstrar que a hegemonia atual da geocrítica se deve, antes de mais nada, aos conteúdos que vêm sendo ensinados no ensino médio e fundamental há cerca de duas décadas.

Prova disso é que muitas dessas ideias questionáveis e unilaterais são reproduzidas em obras didáticas recentes desse autor que tratam mais detalhadamente de relações internacionais, como se pode ler no livro Geografia: geografia geral e do Brasil, lançado em 2005. Nessa obra, o autor afirma que “o grande problema das economias periféricas é a falta de proteção ao consumidor, a falta de um rigoroso controle sobre a remessa de lucros para o exterior, etc., algo levado muito a sério nos países desenvolvidos” (Vesentini, 2005, p. 40). Portanto, o autor menciona de passagem que existem certas causas políticas internas que explicariam o subdesenvolvimento, mas continua a supor que as multinacionais têm pouco interesse em reinvestir seus lucros nos países onde atuam, reproduzindo assim um equívoco já presente em seu livro anterior, embora sem mencionar nada sobre “descapitalização”.

Apesar disso, o autor procura relativizar a ideia de que as multinacionais seriam culpadas pelas disparidades econômicas internacionais, pois lembra que os países desenvolvidos também têm filiais de empresas estrangeiras instaladas em seus territórios e que, ao contrário do que se costuma pensar, a maior parte dos lucros das grandes empresas multinacionais são gerados nesses países, e não nos subdesenvolvidos. Logo depois, complementa que “nesta época da Terceira Revolução Industrial, as matérias-primas em geral e a mão-de-obra barata já não são mais tão necessárias para as economias mais avançadas como eram até os anos 1970” (Vesentini, 2005, p. 40-41). Resta então saber por que o autor continuou a afirmar tal coisa até pelo menos 1998, conforme visto!  

Essas explicações servem para questionar a tese de que os trabalhadores dos países desenvolvidos devem seu nível salarial e seu padrão de vida à exploração dos países pobres, mas isso não quer dizer que Vesentini considere que tal ideia seja totalmente errada. Coerentemente com o que já pensava no final dos anos 1990, esse autor pondera apenas que “é um exagero” pensar que o padrão de vida dos trabalhadores dos países desenvolvidos seria explicável por transferências de riquezas vindas do Sul (Vesentini, 2005, p. 41).

A primeira razão que ele apresenta para relativizar (e não negar) essa ideia é a de que “[…] dentro dos próprios países periféricos sempre existe uma minoria riquíssima privilegiada, que, quase sempre, é cúmplice e beneficiária dessa situação de dependência ou subordinação em relação ao exterior” (Vesentini, 2005, p. 41). Como se vê, Vesentini questiona a ideia de que há uma exploração entre países fazendo eco à tese, bastante difundida entre teóricos latino-americanos, de que existe um mecanismo de “domínio externo-interno” funcionando nos países considerados dependentes. Mas o curioso é que, segundo esses autores, a aliança das burguesias nacionais e internacionais faria justamente com que a exploração do trabalho pelo capital, embora ocorrendo dentro das fronteiras dos países latino-americanos, beneficiasse principalmente sociedades ou nações externas (Quijano, 1993, p. 64), ao passo que Vesentini usa a mesma ideia para relativizar a importância atribuída a mecanismos de exploração internacional! A exposição desse autor trafega o tempo todo no universo teórico e ideológico das interpretações marxistas mais radicais e simplórias sobre as relações internacionais, até mesmo quando, contraditoriamente, procura relativizar certas teorias do intercâmbio desigual próprias dessas correntes.

A segunda razão apresentada para negar parcialmente que os países desenvolvidos devem seus níveis de bem-estar à exploração dos demais é que no Terceiro Mundo “existe uma enorme corrupção ou desperdício de recursos”, cujos efeitos se somam à ação dos grupos sociais afluentes: “é toda essa situação, em que figuram essa minoria privilegiada e a corrupção, que é a principal responsável pelas baixas condições de vida da maioria das populações do Sul, e não os países desenvolvidos” (Vesentini, 2005, p. 41 – itálico no original). O peso atribuído à corrupção destoa das interpretações críticas e radicais sobre as diferenças de desenvolvimento entre países, para as quais a corrupção é apenas uma prática que reforça os efeitos dos mecanismos econômicos de exploração centro-periferia, inerentes às “leis de funcionamento do capitalismo”. Por outro lado, ao responsabilizar a tal “minoria privilegiada” pela pobreza dos países do Terceiro Mundo, mas ao mesmo tempo em que a acusa de cumplicidade com a “dependência e a subordinação” que a beneficiariam, fica claro que o autor continua a reproduzir ideologias próprias das vertentes intelectuais críticas do capitalismo e do sistema econômico mundial, mesmo quando procura relativizar a tese de que há exploração entre países.

Finalmente, a terceira razão apresentada por Vesentini é esta:

[…] os lucros das empresas multinacionais instaladas nos países subdesenvolvidos em geral não são aplicados nas economias desenvolvidas. São reinvestidos nos próprios países periféricos, ainda que em outras áreas ou países ou até nos países ex-socialistas […]. Às vezes são também depositados em contas bancárias seguras nos chamados “paraísos ficais” […]. Esses lucros não se destinam aos trabalhadores e sim aos capitalistas ou, principalmente, aos políticos ou funcionários corruptos. Não é por causa desses lucros que os trabalhadores dos países centrais recebem salários maiores, mas sim pela própria produção interna dessas economias desenvolvidas, que é gigantesca (Vesentini, 2005, p. 41).

 Bem, esse parágrafo contradiz a antiga visão do autor sobre a “descapitalização” ocasionada pelas remessas de lucros das multinacionais, pois deixa claro que a maior parte dos lucros gerados na “periferia” são investidos em países desse grupo. Ademais, é um erro afirmar que o valor total da produção interna de um país explica os níveis de salário médio nele vigentes, pois é a produtividade do trabalho que determina isso. Um país muito populoso, mas com grande parte da PEA ocupada em atividades de baixa produtividade, terá um PIB elevado na comparação com os demais países, embora os salários médios sejam baixos. O exemplo da China é a melhor ilustração disso.

Mas, além dessa explicação econômica equivocada, que outra razão Vesentini apresenta para explicar os níveis superiores de salários e de bem-estar social vigentes no mundo desenvolvido? Segundo ele, “o sistema político conseguiu humanizar o capitalismo”, e isso se deu com a ascensão da social-democracia, conceituada deste modo: “[…] um governo que procura atender às reivindicações populares e não combatê-las por princípio, tal como ocorria anteriormente e ainda ocorre em grande parte dos Estados nacionais” (Vesentini, 2005, p. 46). A primeira conclusão implícita no raciocínio é que o liberalismo, que já existia antes da fundação do Partido Social-Democrata Alemão, combatia as reivindicações populares “por princípio”. A segunda conclusão é a de que o atendimento ou não de reivindicações salariais e trabalhistas é uma questão puramente ideológica, que nada tem a ver com a trajetória dos ganhos de produtividade e nem com o crescimento econômico, conforme se lê nesta passagem:

Assim sendo, a explicação fundamental para o padrão de vida relativamente elevado (em comparação ao das economias subdesenvolvidas) das classes trabalhadoras nos países desenvolvidos é a democracia, resultado de intensas lutas populares que existem, no mínimo, desde o século XIX. […] Não foram os governos, por iniciativa própria, muito menos os capitalistas, que diminuíram a jornada de trabalho, aumentaram os salários dos trabalhadores e melhoraram a qualidade de vida da população em geral nos países centrais. Isso decorreu de conquistas, especialmente trabalhistas, que tiveram início no final do século XIX e, em parte, se estendem até hoje. Elas foram obtidas à custa de muitas manifestações […] e de muitos choques contra os patrões e a polícia, nos quais ocorreram violência física e até mortes (Vesentini, 2005, p. 42).

 Portanto, se nos países subdesenvolvidos a “minoria privilegiada” é a principal responsável pelos problemas sócio-econômicos e pela corrupção, no Primeiro Mundo os capitalistas aparecem como uma força histórica reacionária, pois não fazem nada além de lutar contra os avanços democráticos e negar benefícios trabalhistas justos tanto quanto puderem. Os trabalhadores, por outro lado, estão sempre certos quando reivindicam algo.

Ora, não se trata de querer negar a importância de inúmeros movimentos sindicais para o avanço da democracia, nem que houve lutas violentas envolvendo a conquista de direitos legítimos, como o direito de greve, a regulamentação da jornada de trabalho, e assim por diante. Trata-se apenas de dizer que, como Vesentini não leva em conta que são os ganhos de produtividade que tornam possível, ao longo do tempo, combinar elevação dos salários reais com redução da jornada de trabalho, deixa de dizer que as iniciativas tomadas pelos capitalistas para introduzir progresso técnico nos processos produtivos, visando ampliar as taxas de lucro, são absolutamente centrais para explicar os elevados níveis de salário médio e de bem-estar social hoje vigentes no mundo desenvolvido. Até mesmo economistas de esquerda, como Celso Furtado, sabem que o ritmo de introdução de progresso técnico nos processos produtivos é o elemento central para entender as diferenças de desenvolvimento entre países. Mas Vesentini, coerentemente com os pressupostos da geografia crítica – que é a base metodológica explícita do seu livro, ao lado do construtivismo (Vesentini, 2005) –, prefere apresentar a história como uma luta de classes maniqueísta. Por isso parte de uma leitura até certo ponto correta da história dos movimentos trabalhistas para sugerir que as reivindicações sindicais manifestam sempre interesses gerais da sociedade ou do conjunto dos trabalhadores, ideia essa que é bastante discutível, para dizer o mínimo. No Brasil e na França, por exemplo, os sindicatos de funcionários públicos são criticados por defenderem a manutenção de regimes especiais de previdência que têm gerado déficits crescentes e onerado o conjunto da sociedade, na medida em que o Estado é obrigado a destinar dezenas de bilhões de reais do tesouro, todos os anos, para pagar os benefícios.

Portanto, nos livros didáticos de Vesentini, os avanços sociais alcançados no Primeiro Mundo nada têm a ver com liberdade econômica, garantia do direito de propriedade, estímulos à assunção de riscos, e nem com a competitividade das empresas. Tudo se resume à pressão dos sindicatos e de outras organizações sobre o Estado e à existência ou não de identidade ideológica dos governos com esses “movimentos sociais”! As abordagens de autores que, embora com tendências teóricas e ideológicas muito diversas, ressaltam a importância das instituições capitalistas e as virtudes da economia de mercado para a realização de avanços sociais estão ausentes da discussão que Vesentini faz sobre as características dos países desenvolvidos. Onde estão as ideias de autores como Carlos Rangel, Hernando de Soto, Michael Porter ou de Paul Krugman? No que diz respeito às relações internacionais, por que esses livros não fazem nenhuma menção às explicações derivadas da Teoria do Comércio Internacional, também conhecida como Teoria das Vantagens Comparativas? Por que apenas as correntes intelectuais antagônicas a essa teoria presentes nos livros?

Mas é claro que a avaliação de dois livros didáticos de um mesmo autor não é suficiente para garantir que os conteúdos ensinados nas escolas de ensino médio são coerentes com os conteúdos desses livros, por mais que se trate de um autor muito influente entre os professores, como é o caso de Vesentini. Para testar até que ponto haveria coerência entre conteúdos como esses e as representações dos alunos de ensino médio, elaborei um questionário sobre alguns temas importantes de geografia geral, que foi aplicado por três estagiários da UFPR em escolas de Curitiba, no ano de 2008 (ver Anexo). E, embora o objetivo fosse avaliar a influência teórica e ideológica da geocrítica no ensino, a qualidade das redações dos alunos mostrou-se tão lastimável que o instrumento da pesquisa acabou servindo também para dar uma pequena demonstração da ineficiência do sistema escolar brasileiro, que não consegue formar pessoas capazes de elaborar raciocínios complexos e de expressá-los em linguagem clara.

Os questionários foram respondidos por 121 alunos do último ano do ensino médio (alunos que estão próximos do vestibular, portanto), distribuídos em três escolas. Esse número é insuficiente para compor uma amostra do universo formado pelos estudantes de Curitiba, de modo que os dados não possuem significância estatística. No entanto, o grau de coerência das respostas obtidas com o conteúdo dos livros didáticos de geografia examinados sugerem que os conteúdos transmitidos aos alunos estão sendo definidos unilateralmente pelas abordagens da teoria social crítica e pela doutrinação ideológica de esquerda, conforme vem sendo denunciado pelo site Escola Sem Partido e por alguns setores da imprensa.

Sendo assim, cumpre apresentar o resultado geral da aplicação dos questionários, conforme a tabela abaixo:

 

Visões dos alunos pesquisados sobre as relações econômicas internacionais

(em porcentagem)

Questões

V

F

PV

1. A busca do lucro e a lógica competitiva do capitalismo são as responsáveis

90,1

9,9

   pela crise ambiental global

 

 

 

2. O comércio internacional cria desequilíbrios entre países ricos e pobres

67,2

32,8

3. Exportadores de bens primários são explorados pelo Primeiro Mundo

66,9

33,1

4. Os países do Terceiro Mundo são explorados pelas multinacionais

68,3

31,7

5. A superação do subdesenvolvimento exige uma industrialização autônoma

55,5

44,5

6. O liberalismo é uma doutrina vantajosa apenas para o Primeiro Mundo, de

55,9

44,1

   modo que os países do Terceiro Mundo precisam de medidas protecionistas.

 

 

 

7. O elevado nível de desenvolvimento e de bem-estar social do Primeiro

25,2

16,0

58,8

   Mundo resulta da exploração e dominação dos países do Terceiro Mundo

 

 

 

10. A industrialização e a expansão do capitalismo aumentam a interdependência

84,2

15,8

     entre os países, concentrando a riqueza em certas áreas e aumentando a

 

 

 

     pobreza em outras

 

 

 

Diferenças de resultados entre as escolas pesquisadas

     Questão 5 – Colégio A

40,5

59,5

     Questão 3 – Colégio B

18,2

81,8

     Questão 4 – Colégio B

22,7

77,3

     Questão 7 – Colégio B

13,6

40,9

45,5

Fonte: Pesquisa de campo realizada nos meses de abril e maio de 2008.

Nota: O enunciado completo das questões encontra-se no Anexo.

 

Como se pode notar, houve poucas questões nas quais as respostas predominantes entre os alunos de um colégio fossem diferentes daquelas mais frequentes entre os alunos dos outros dois. A maior parte das diferenças ocorreu com os alunos de um único colégio, sendo necessário destacar que esse foi aquele no qual menos questionários foram aplicados (22, contra 57 e 42 nos outros colégios). Apesar disso, o fato de se tratar de um colégio religioso, enquanto os outros são estaduais, pode talvez explicar as diferenças observadas.

Numa avaliação geral, nota-se que os consensos mais fortes mostrados pelas respostas dizem respeito às questões 1 e 10, que foram avaliadas como verdadeiras em 90,1% e 84,2% dos questionários, respectivamente. Portanto, a maioria esmagadora dos alunos pesquisados considera que: a) a busca do lucro e a lógica competitiva do capitalismo são os responsáveis pela chamada “crise ambiental”; b) a industrialização aumenta a interdependência entre os países e, por isso mesmo, faz com que a riqueza se concentre em algumas áreas e a pobreza aumente em outras.

O mais interessante nesse resultado, porém, é que os enunciados completos dessas questões reproduzem quase literalmente duas passagens de Brasil: Sociedade e Espaço, de José William Vesentini (1998, p. 67-68 e 285), livro cuja importância para este estudo já foi comentada. Embora não se possa dizer que as visões de mundo dos alunos sejam moldadas exclusivamente por livros didáticos e professores, é inegável que as respostas dadas a essas duas questões são coerentes com os pressupostos da geocrítica expressos nessas passagens do livro, especialmente a tese de que os problemas ambientais e socioespaciais seriam consequências da “lógica do capitalismo” (Diniz Filho, 2002).

No que diz respeito às relações econômicas internacionais, as respostas dadas à questão 10 já demonstram que, na visão de mais de 80% dos alunos pesquisados, pobreza e riqueza são ambas produzidas por processos gerais, que são a industrialização e a expansão do capitalismo. Todavia, quando se fazem perguntas mais específicas sobre os mecanismos que explicariam essa relação necessária entre riqueza e pobreza (questões 2 a 4), a freqüência da resposta “verdadeiro” já não é tão grande. Ainda assim, a tabela mostra que 67,2% dos que responderam à questão 2 concordam que o comércio internacional produz disparidades entre países ricos e pobres porque, sendo impossível que todos obtenham superávit comercial, os países deficitários saem perdendo.

Esse tipo de raciocínio, embora equivocado, não é necessariamente produto da assimilação de teorias anti-capitalistas nas aulas de história e de geografia. Mesmo nos países desenvolvidos os debates sobre políticas públicas e competitividade demonstram que há uma desconfiança bastante difundida contra a ideia de que o comércio internacional possa trazer benefícios para todos os países, independentemente dos seus respectivos níveis de produtividade e de salário médio. O economista Paul Krugman, numa obra de divulgação científica, polemizou com alguns intelectuais que ganharam notoriedade e influência política ao publicarem livros de grande sucesso que defendem a visão segundo a qual o comércio entre nações traz necessariamente perdas econômicas e sociais para aquelas que não têm bom desempenho. Esses intelectuais não são marxistas e nem socialistas, mas fazem sucesso ao divulgar análises econômicas segundo as quais o comércio externo é prejudicial para os países com déficit no setor industrial, que não são competitivos na produção de bens de alto valor agregado e/ou que importam maciçamente produtos oriundos de países onde os níveis de salário médio são baixos (Krugman, 1999, p. 11-15)[2]. Todavia, as respostas que os alunos deram às questões 3 e 4 sugerem que, no caso brasileiro, as desconfianças em relação às vantagens potenciais do livre comércio não se devem apenas a visões questionáveis da teoria das vantagens comparativas (defendida por economistas como Krugman), mas principalmente à influência de certas teorias das trocas desiguais inspiradas pelo marxismo e pelas teses da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe – Cepal.

A tabela mostra que pouco mais de dois terços dos alunos pesquisados concebem o sistema econômico mundial como intrinsecamente injusto, já que o Terceiro Mundo seria explorado por exportar produtos primários e também pelas empresas multinacionais, que remetem lucros para o exterior. Isso não quer dizer que todos os alunos que pensam a troca de mercadorias como uma relação de exploração acreditam também que as empresas multinacionais exploram os países onde se instalam, pois há muitos questionários em que uma dessas ideias é considerada verdadeira e a outra é vista como falsa. No entanto, está bem claro que, para a grande maioria dos alunos pesquisados, as relações econômicas internacionais consistem em mecanismos de exploração que explicam em boa parte as diferenças de desenvolvimento entre os países.

Isso fica demonstrado de maneira cristalina nas respostas assinaladas na questão 7, posto que 58,8% afirmaram ser parcialmente verdadeiro que os elevados níveis de desenvolvimento e de bem-estar social nos países ricos é fruto da exploração e dominação do Terceiro Mundo, enquanto 25,2% afirmaram que essa ideia é verdadeira. No conjunto, 84,0% dos alunos pesquisados afirmaram que essa ideia está correta no todo ou ao menos em parte! Em apenas um colégio o percentual de alunos que avaliaram tal visão como falsa superou o daqueles que a consideram verdadeira, conforme a tabela, mas mesmo ali a resposta mais frequente (45,5% do total) foi a de que tal ideia é parcialmente verdadeira. Mesmo nesse colégio, portanto, 59,1% dos pesquisados acredita que as diferenças de desenvolvimento entre países se explicam total ou parcialmente por relações de exploração e dominação. Portanto, as respostas a essa questão demonstram uma grande correspondência entre as visões de mundo da maior parte dos alunos e as ideias contidas nos livros de Vesentini, segundo os quais os níveis de bem-estar vigentes nos países desenvolvidos se devem parcialmente a processos de exploração internacional.

Para entender adequadamente as opiniões dos alunos acerca dessa questão, foi solicitado que eles justificassem suas respostas por escrito. Os textos demonstram que as convicções dos alunos não derivam claramente da assimilação de alguma teoria econômica, mas apenas de suposições ideológicas enunciadas como se fossem fatos óbvios ou, nas respostas um pouco mais elaboradas, de algumas leituras simplificadoras da teoria cepalina das trocas desiguais. Como exemplos de justificativas puramente baseadas em suposições ideológicas, mas apresentadas como verdades que dispensariam demonstração, podem ser destacadas as seguintes respostas:

“Pq eles tem dinheniro” (P5-8).

“Simplesmente porque eles tem mais dinheiro” (P5-7).

Nos dois casos, os alunos responderam que é verdadeira a afirmação de que os elevados níveis de desenvolvimento e de bem-estar social no mundo desenvolvido se devem à exploração e dominação dos outros países[3]. Já outros alunos para os quais essa avaliação é correta justificam sua resposta simplesmente com a suposição de que países possuidores de maior riqueza tiram proveito desse fato para explorar os outros, embora sem explicarem como isso seria feito:

“Verdadeiro porque os países do primeiro mundo explorão países subdesenvolvidos os países do 3 º mundo” (P4-21).

“Porque nos países do 3º Mundo, não há com o que combater o acédio e a exploração dos países de 1º mundo” (P1-29).

Por fim, cabe destacar que algumas respostas se baseiam em ideias absurdas sobre o suposto poder que os países desenvolvidos teriam de controlar as economias dos demais, como se vê abaixo:

“Pois como tem a dominação desses países, fazem as pessoas trabalharem como ‘escravos’ dando-lhes salários baixos enquanto os países do Primeiro Mundo se desenvolvem economicamente e vivem melhor, pois ganham salários mais altos” (P2-05).

Mas é certo que a maioria dos alunos respondeu ser apenas parcialmente verdadeiro que os países desenvolvidos devem seu padrão de vida à exploração de outros países, de forma consistente com as visões expressas nos livros de Vesentini. No entanto, esses alunos também não foram capazes de justificar adequadamente sua avaliação, a qual, na maior parte dos casos, aparece como fruto do bom senso:

“Porquê os países de primeiro mundo também fazem por merecer, não é só pela exploração dos países de terceiro mundo, mais de forma alguma que eles não explorão, eles explorão e muito” (P2-23).

“Em partes é verdade pois sim estes exploram os países de 3º mundo mas não é só disso que esses países de 1º mundo se sustentam” (P4-26).

“Não somente os países de Primeiro Mundo lucram com isto. Mas também o de Terceiro Mundo” (P1-22).

 Houve ainda um caso no qual a justificativa contradiz a resposta de que seria apenas parcialmente verdadeiro que os países desenvolvidos devem seu padrão de vida a relações internacionais de dominação e de exploração, pois se baseia numa afirmação absurda e nada diz sobre quais seriam os fatores endógenos de progresso econômico e social desses países:

“resultam da exploração e dos altos níveis de impostos cobrados aos países do Terceiro Mundo” (P2-27).

 Em algumas respostas, vemos que os alunos mencionam certos fatores que explicariam o sucesso dos países desenvolvidos a partir de causas internas, mas de forma absolutamente superficial. Além disso, é significativo que tais fatores são associados pelos alunos principalmente à ação do Estado, não havendo nenhum questionário em que o ritmo de crescimento da produtividade do trabalho seja citado como um fator explicativo dos altos salários e do progresso econômico e social vigentes nos países desenvolvidos. Pode-se notar isso nos exemplos abaixo:

“Não é somente dos lucros gerados pela exploração, mais a política é diferente a dos outros países, se pode investir mais na educação, bem estar e tal a estrutura faz com que seja possível aumentar este índice” (P5-7).

“Depende também de multiplos fatores. Governo, educação, economia são exemplos” (P4-16).

 Analisando-se agora o caso dos alunos que responderam ser falsa a afirmação de que os níveis de desenvolvimento vigentes no Primeiro Mundo derivam da exploração de outros países, verifica-se que estes também apresentam graves problemas de redação e sérias dificuldades de articulação de ideias, conforme os exemplos abaixo:

“A maioria da exploração do Terceiro Mundo ocorre pelo excesso de obtenção de matérias primas”.

“Os pais do terceiro mundo não são dominado pelo primeiro. Apenas tem uma diferença evolução industrial enquanto o primeiro está super avansado. O terceiro está na luta de um crescimento” (P2-01).

No primeiro caso, a oração simplesmente contradiz a resposta que ela deveria justificar! No segundo, é interessante destacar que o aluno assinalou “verdadeiro” na questão 3, cujo enunciado afirma que os países do Terceiro Mundo são explorados por exportarem principalmente matérias-primas, e também na questão 4, segundo a qual esses países são explorados pelas multinacionais. Portanto, o aluno considerou o enunciado da questão 7 falso, justificou sua resposta por escrito, mas fez isso logo depois de haver concordado com duas afirmações que contradizem seu texto.

O mais significativo, porém, é que essas contradições flagrantes não são peculiaridades das visões de mundo desses alunos, pois estão presentes na maior parte dos questionários em que o enunciado da pergunta 7 foi considerado falso. Dos 19 alunos que rejeitaram a explicação de que o desenvolvimento econômico e o bem-estar social dos países desenvolvidos se devem a mecanismos internacionais de exploração e dominação, apenas 7 assinalaram “falso” na questão 3 e também na questão 4. Isso quer dizer que 63,2% dos alunos que afirmam rejeitar esse tipo de explicação das diferenças entre países concordam mesmo assim com certos discursos que asseguram que o Terceiro Mundo é explorado por vender produtos primários e/ou devido às remessas de lucros das multinacionais. Então, caso se considerar que os alunos que rejeitam efetivamente a visão da economia internacional como um sistema fundado na exploração e dominação são apenas aqueles que, coerentemente, assinalaram “falso” nas questões 3, 4 e 7, chegar-se-á à conclusão de que menos de 10% dos alunos pesquisados encontram-se nessa situação, enquanto a quase totalidade acredita em algum tipo de injustiça inerente às relações econômicas internacionais.

O vínculo entre essa suspeição generalizada contra o sistema econômico mundial e o conteúdo crítico das aulas de geografia e de história se evidencia naqueles poucos questionários em que as justificativas apresentadas para a resposta 7 se relacionam com algum marco teórico explicativo da economia internacional. Mas mesmo aquelas poucas respostas nas quais transparecem alguns conhecimentos que são comuns em livros didáticos não conseguem mais do que reproduzir de forma truncada certas ideias afins às abordagens da “dialética da dependência”, conforme revelam as respostas a seguir:

“Porque com o desenvolvimento dos países do 1º mundo aumenta a produtividade, assim obrigando-os a explorarem os países do 3º Mundo, ou seja, menos desenvolvidos, com o pouco giro de capital ficam quase ‘incapazes’ de protegerem-se” (P5-3).

“Os países de 1º mundo compram a matéria prima dos países de 3º mundo por um preço baixíssimo pois há concorrencia no fornecimento de matéria-prima” (P3-39).

“A partir da compra que países desenvolvidos sucedem com os subdesenvolvidos (muitas vezes explorativa), resulta em economia, e uma margem de lucro mais vantajosa por motivo do custo baixo dos produtos comprados; porém, a fortuna e desenvolvimento social, não provém somente desse conceito, mas sim, relaciona-se à outras áreas” (P2-24).

 Mas a questão 7 não é a única que solicita respostas por escrito dos alunos, pois o mesmo ocorre com as questões 8 e 9. Esta última tem o enunciado “o que é um país dependente?”, e as respostas demonstram não só o absoluto desconhecimento de qualquer teoria social que faça uso desse conceito como ainda revela os gravíssimos problemas de leitura e de redação desses alunos do último ano do ensino médio. Aqui estão algumas respostas que chegam a ser anedóticas:

“É um pai que depende da esposa ou dos filhos” (sic!) (P4-23).

“País que depende do outro é aquele que não é nada dependente, país sem qualidade” (P5-14).

“País que não depende de outro País de sua riqueza, globalização, tecnologia” (P5-10).

“É um país que não é dependente, depende de outros para sobreviver” (P5-8).

Essas e outras respostas mostram que muitos alunos do último ano do ensino médio simplesmente confundem o significado das palavras “dependente” e “independente”! Na maior parte dos questionários, porém, os alunos escrevem guiando-se apenas pelo significado mais geral dessas palavras, o que os leva a dizer obviedades como esta: “É um país que depende de outros para de outras para a sobrevivencia de sua economia” (P1-19). As únicas respostas que demonstram uma associação, ainda que vaga, com teorias que trabalharam o conceito de dependência são estas:

“Que depende de outro para se industrializar” (P2-25).

“São países que dependem da economia ou tecnologia de outros, que não conseguem suprir as suas próprias necessidades” (P1-11).

O fato de ser possível estabelecer uma relação superficial entre tais respostas e os estudos sobre a dependência produzidos dos anos 1970 em diante não implica atribuir eficácia explicativa a tais estudos, como também não quer dizer que se esteja sugerindo aqui a necessidade de obrigar os alunos do ensino médio a assimilar as conclusões de tais trabalhos. Trata-se apenas de dizer que, embora as respostas desses alunos sejam superficiais, ao menos revelam a assimilação de algumas ideias cuja fonte principal foram os livros didáticos e as exposições dos professores, o que permite detectar os conteúdos que estão sendo transmitidos aos alunos nas escolas. E, de fato, não há como negar a correspondência entre esse tipo de resposta e a interpretação de Vesentini (1998) sobre o papel da dependência econômica e tecnológica como elemento definidor do subdesenvolvimento.

As respostas à pergunta 8, “o que é um país subdesenvolvido?”, revelam também uma cena desalentadora, visto o número daquelas que contrariam frontalmente o próprio senso comum sobre o que seria subdesenvolvimento:

“Um país de 1º mundo” (sic!) (P2-19).

“Um país que é desenvolvido” (sic!) (P4-19).

“É um país no qual tem um nível de renda mais elevado que os outros países” (P2-13).

“É um país com tecnologia, industrialização, e entre outros, mais avançados” (P2-18).

“É um país que se destaca dos outro economicamente, que gera mais empregos e que possui um melhor crescimento” (sic!) (P5-13).

 Ainda assim, as respostas a essa questão mostraram, com maior freqüência, algum nível de assimilação de teorias que são comuns em livros didáticos de geografia e, provavelmente, também de história, conforme os exemplos a seguir:

“É um país de 3º mundo. Um país que iniciou sua industrialização mais tarde. E por isso acabou sendo explorado por países desenvolvidos” (P3-29).

“É um país que não se industrializou ou teve uma industrialização tardia, pois comercializam produtos-primários com os países desenvolvidos” (P1-11).

“Geralmente foram colônias exploradas pelas metrópoles, tendo suas riquezas naturais retiradas, industrializadas no exteriro, e revendidas a um preço muito mais alto para o país de origem dessa matéria-prima, e com barreiras econômicas, pois não podia fazer comércio com outros países a não ser a metrópole” (P1-07).

 Como se vê, as respostas dos alunos às questões 7, 8 e 9 revelam uma forte influência de certas teorias das trocas desiguais, a qual se manifesta também nos livros didáticos analisados aqui (Vesentini, 1998; 2005). De fato, são muitos os casos além desses citados em que se define país subdesenvolvido como aquele que sofre exploração por não ser industrializado e por exportar bens primários:

“É um país que não se industrializou ou teve uma industrialização tardia, pois comercializam produtos-primários com os países desenvolvidos” (P1-11).

“É um país que não contém industrialização, é pobre, tem matérias-primas de altos valores mas que não sabem aproveitar esse valor e precisam que os desenvolvidos venham retirar, até roubar deles” (P1-15).

“É aquele país que produz para exportar para fora” (P2-10).

 Apesar disso, é importante ressaltar que, ao contrário das versões catastrofistas das teorias do intercâmbio desigual, que previam a impossibilidade dos países “periféricos” se desenvolverem dentro do sistema capitalista, muitos dos alunos pesquisados definem país subdesenvolvido como aquele que ainda está em processo de desenvolvimento. Em nenhum questionário foi dito que a implantação do socialismo seria necessária ou pelo menos eficaz como meio para superar o subdesenvolvimento, embora os alunos manifestem visões favoráveis do modelo socialista e da experiência cubana com freqüência considerável, conforme se verá mais adiante.

Já no que diz respeito à perspectiva de alcançar o desenvolvimento por meio de reformas capitalistas, é interessante notar que, embora seja forte a associação causal do subdesenvolvimento à baixa industrialização, o percentual de alunos que considerou a questão 5 verdadeira foi de 55,5%, conforme a tabela. Isso implica que o apoio à ideia de que a industrialização autônoma é uma condição necessária para superar o subdesenvolvimento é menos comum do que as visões segundo as quais os países do Terceiro Mundo são explorados por serem exportadores de matérias-primas (questão 3) e pela ação das empresas multinacionais (questão 4). No colégio A, que é estadual, 59,5% afirmou ser falsa a ideia de que a industrialização autônoma é uma condição necessária para o desenvolvimento do Terceiro Mundo, embora a grande maioria dos alunos desse colégio tenha concordado com os enunciados das questões 3 e 4.

Resultado semelhante foi encontrado nas respostas dadas à questão 6, pois 55,9% dos alunos afirmaram que os países do Terceiro Mundo precisam de medidas protecionistas para se desenvolver, já que o liberalismo seria uma doutrina econômica conveniente apenas para os países ricos. Isso revela que, embora haja um apoio majoritário a reformas capitalistas de esquerda, inspiradas pelo pensamento da Cepal e de inúmeras correntes nacional-populistas da América Latina, tal apoio é menos comum do que a visão segundo a qual os países do Terceiro Mundo seriam explorados por venderem principalmente produtos primários e pelas remessas de lucros das multinacionais. Em resumo, a grande maioria dos alunos vê as diferenças de desenvolvimento como resultado total ou parcial de mecanismos de exploração e associam tais mecanismos à baixa industrialização dos países subdesenvolvidos, mas, ainda assim, a velha bandeira da industrialização autônoma não encontra tanta aceitação quanto o que seria lógico supor à luz de visões tão críticas da economia mundial.

Em suma, pode-se afirmar que os efeitos da doutrinação ideológica sobre o modo de pensar dos alunos pesquisados se manifestam muito claramente nos questionários. Embora as respostas sejam superficiais e extremamente mal formuladas na maior parte dos casos, as que revelam alguma influência de teorias econômicas expressam sempre ideias próprias daquelas afinadas com ideologias de esquerda, sobretudo das teorias das trocas desiguais, em várias versões. Não houve um único questionário que associasse as diferenças de desenvolvimento entre países ao grau de competitividade de suas respectivas empresas ou à importância das instituições econômicas liberais (especialmente o direito de propriedade) como estímulos à inovação e ao investimento.

Será que isso acontece pelo fato de a grande maioria dos alunos concordar com as teorias críticas do capitalismo ou pelo fato de eles simplesmente desconhecerem os autores e teorias não afinadas com essa perspectiva? A julgar pela análise dos livros de Vesentini (1998; 2005), parece certo que a segunda resposta é a verdadeira, já que esses livros, embora se propondo a apresentar múltiplas visões da realidade, limitam-se apenas ao universo do pensamento de esquerda, tanto em termos teóricos quanto ideológicos. No que diz respeito às relações econômicas internacionais, por exemplo, chama atenção a absoluta ausência de qualquer menção à Teoria do Comércio Internacional, também conhecida como Teoria das Vantagens Comparativas, nos livros didáticos desse autor, ausência essa que se repete nas respostas dadas pelos alunos. Haveria alguma justificativa não ideológica para explicar porque os livros didáticos ignoram essa teoria, já que ela é a mais utilizada por economistas do mundo inteiro?

Ora, se os alunos pesquisados tivessem tido contato com abordagens variadas, seria de esperar que as respostas escritas do questionário manifestassem um mínimo de variedade quanto às fontes que as influenciaram, mas não é o que acontece. Os que discordam totalmente das visões críticas são pouquíssimos, e justificam suas posições com base no senso comum ou com menções superficiais ao papel social do Estado nos países desenvolvidos, similares às ideias de Vesentini (2005, p. 40-42). A inexistência de respostas influenciadas por explicações não oriundas da teoria social crítica demonstra que é sobretudo por vedar aos alunos a oportunidade de conhecer pontos de vista divergentes que o sistema de ensino tem funcionado como uma autêntica máquina de doutrinação ideológica.

Posto isso, vale a pena encerrar esta seção apresentando as respostas às questões 11 e 12, que põem em foco dois temas bastante propícios à influência ideológica nos conteúdos escolares. O enunciado da primeira afirma que o momento histórico atual se caracteriza pela hegemonia econômica e militar norte-americana, e solicita que o aluno avalie a forma como os EUA exercem essa hegemonia como Positiva, Predominantemente Positiva, Negativa ou Predominantemente Negativa, conforme a tabela abaixo:

 

Visões dos alunos sobre a hegemonia econômica e militar dos EUA

 

(em porcentagem)

 

 

 

 

 

Colégios Pesquisados

N.

P.N.

P.

P.P.

 

Colégio A

40,5

21,4

14,3

23,8

 

Colégio B

42,9

0,0

52,4

4,8

 

Colégio C

25,9

42,6

13

18,5

 

Colégios A + C

32,3

33,3

13,5

20,8

 

Total dos Questionários

34,2

27,4

20,5

17,9

 

Fonte: Pesquisa de campo realizada nos meses de abril e maio de 2008.

 

Nota: Eventuais diferenças nas somas das porcentagens devem-se ao arredondamento.

 

Assim como no caso de outras três questões, já comentadas, nota-se que as respostas dos alunos do colégio B, que é religioso, destoam daquelas predominantes nos colégios estaduais. Em primeiro lugar, é curioso ver que nesse colégio as avaliações da influência norte-americana mostram-se muito mais polarizadas do que nos outros, pois quase todos os alunos desse colégio dividiram-se entre as duas opções que qualificam tal influência como negativa ou positiva, sem matizes. Em segundo lugar, nota-se que a soma das avaliações “positiva” e “predominantemente positiva” foi de 57,1% no colégio B, ao passo que nos outros há uma nítida preponderância das avaliações negativas e predominantemente negativas da hegemonia dos EUA. O colégio A possui o mais alto percentual de avaliações negativas, enquanto no colégio C é a resposta “predominantemente negativa” que figura como a mais assinalada. Considerando a soma dos questionários desses dois colégios estaduais, verifica-se que aproximadamente um terço dos alunos pesquisados avaliam a hegemonia norte-americana como “negativa” e outro terço a julgam “predominantemente negativa”, o que expressa a rejeição de aproximadamente dois terços dos alunos desses colégios estaduais à forma como os EUA exercem sua hegemonia.

Assim, o único colégio em que a hegemonia norte-americana é vista majoritariamente de forma positiva é também o único no qual a grande maioria dos pesquisados recusou as visões de que o Terceiro Mundo seria explorado, embora mesmo aí predomine a ideia de que o bem-estar social do mundo desenvolvido resulta total ou parcialmente de relações internacionais de exploração e dominação. Há uma grande coerência ideológica entre as respostas dos alunos, portanto, de modo que o predomínio das visões de esquerda acerca das relações econômicas e políticas internacionais pode perfeitamente ser atribuído à forte influência da teoria social crítica nos livros didáticos e nas aulas de história e de geografia, conforme é confirmado por alguns levantamentos (Weinberg; Pereira, 2008; Leal; Mansur; Vicária, 2007).

Essa conclusão é reforçada quando se avaliam as respostas dadas pelos alunos pesquisados à questão 12. O enunciado dessa questão solicita ao aluno que assinale qual ou quais das afirmações apresentadas em seguida poderiam ser indicadas como causas da crise do socialismo real, sendo que a freqüência das respostas obtidas foi a seguinte:


 

Visões dos alunos sobre a crise do socialismo real

Total de Questionários (*)

 

 

 

Alternativas

Freqüência

 

 

 

A

O isolamento econômico levou o socialismo real ao fracasso, pois os países socialistas não

46

 

podiam fazer comércio com os países capitalistas

 

B

Os ideais socialistas foram aplicados de forma deturpada. O que existia nos países ditos

21

 

“socialistas” era um capitalismo de Estado

 

C

Não foi o socialismo que fracassou, mas sim algumas experiências socialistas. Cuba é a

41

 

prova disso, pois apresenta indicadores sociais excelentes e se mantém socialista.

 

D

O socialismo foi inviabilizado economicamente pelos gastos militares que teve de fazer

46

 

durante a guerra fria, não por deficiências intrínsecas ao sistema

 

E

O planejamento econômico centralizado não conseguiu industrializar países como Cuba e

27

 

China, como também não resolveu os problemas da pobreza e até da fome em alguns países

F

O planejamento econômico centralizado foi ineficiente para gerar crescimento econômico e

20

 

progresso tecnológico, ao passo que a economia de mercado foi eficaz

 

G

A estatização total da economia produz uma burocracia gigantesca e ineficiente, prejudicial

25

 

ao funcionamento da economia

 

H

A ausência de democracia frustrou a promoção da igualdade. De fato, nunca houve um país

27

 

socialista democrático

 

Fonte: Pesquisa de campo realizada em abril e maio de 2008.

 

(*) Várias alternativas podiam ser assinaladas.

 

 

Numa avaliação geral, nota-se a falta de uma ou mais explicações que sejam predominantes, posto que nenhuma das alternativas foi assinalada por mais do que 46 alunos, o que representa apenas um pouco mais de um terço dos 121 pesquisados – a única exceção se deu no colégio B, conforme se verá adiante. Tal resultado pode ser reflexo da ausência de consenso dos próprios professores quanto às causas da derrocada socialista e/ou do pouco destaque conferido a esse tema em sala de aula. De qualquer forma, as duas hipóteses são coerentes com o desinteresse dos geógrafos brasileiros em debater profundamente a crise teórica e política do marxismo, conforme discutido ao longo deste livro e em outros trabalhos (Diniz Filho, 2003; 2002).

Mas, se não existem explicações que sejam vistas majoritariamente como causas dessa crise, por outro lado os questionários mostram muito nitidamente que há um tipo de resposta que se repete bem mais do que as outras. Com efeito, as duas alternativas assinaladas com mais freqüência foram A e D, as quais dizem que o fracasso do socialismo não se deu em função de problemas inerentes ao modelo de economia planificada, mas sim ao suposto isolamento comercial do bloco comunista e aos pesados investimentos militares que esses países tiveram de fazer durante a guerra fria. Coerentemente com esse resultado, a terceira resposta mais frequente é aquela segundo a qual o socialismo não fracassou como modelo sócio-econômico e político, pois o que houve foram apenas algumas experiências socialistas mal-sucedidas, fato esse que seria corroborado pelo suposto exemplo de sucesso vindo de Cuba.

Por sua vez, as respostas menos frequentes foram justamente aquelas que atribuem a crise do socialismo real à ineficiência do modelo de economia planificada e à ausência de democracia. A única exceção foi a alternativa B, segundo a qual a crise se deveu à forma deturpada pela qual os ideais socialistas foram postos em prática. Uma explicação para isso é que, como muitos alunos que atribuíram a crise do socialismo à globalização e à guerra fria também assinalaram uma ou outra das alternativas que indicam falhas inerentes ao modelo socialista, poucos são aqueles convencidos pela explicação de que os problemas se resumiriam apenas à maneira como os ideais revolucionários foram postos em prática. Outra explicação é que, embora os alunos tendam a achar que o modelo socialista possui virtudes econômicas e sociais quando considerado em si mesmo, os países nos quais esse modelo fracassou eram de fato socialistas, e não países onde existiria um “capitalismo de Estado”. Essa última hipótese é coerente com a elevada freqüência de questionários nos quais Cuba aparece como exemplo de que o socialismo pode ser bem sucedido, pois está de acordo com a visão de que o fracasso se deu apenas em certas experiências socialistas.

Um último ponto importante a considerar é que não houve diferenças significativas entre os colégios nas respostas a essa questão. No colégio B, que destoou dos demais em outras três questões, a alternativa A foi assinalada 15 vezes num total de 22 questionários, enquanto as alternativas E e F, que foram as duas seguintes, em ordem de freqüência, receberam apenas 5 indicações cada uma. Portanto, cerca de dois terços dos alunos desse colégio considera válida a explicação delirante de que o fracasso do socialismo se deveu ao suposto “isolamento econômico” dos países socialistas, como se esse conjunto de países, imenso em território, recursos e população, sofresse dificuldades econômicas por não poder fazer comércio com as economias capitalistas (o que é mentira)! Enquanto isso, as outras duas alternativas mencionadas, que atribuem o fracasso à incapacidade de promover a industrialização e a melhora das condições de vida em diversos países socialistas, bem como a problemas intrínsecos ao modelo de economia planificada, receberam três vezes menos indicações. Mesmo nesse colégio, a tendência ideológica predominante é de esquerda, e sustentada por explicações questionáveis sobre as relações econômicas e políticas internacionais, para dizer o mínimo, e perfeitamente afinadas com as abordagens da geografia crítica.

Em vista dessas considerações, e a julgar pelas denúncias que têm sido feitas recentemente na imprensa e no site Escola Sem Partido acerca das deturpações que livros de história e de geografia trazem quando abordam a crise do socialismo, tais resultados podem realmente estar relacionados à doutrinação ideológica no sistema de ensino. Levantamentos feitos em até 130 apostilas e livros didáticos dessas disciplinas revelam que muitos deles silenciam sobre os milhões de mortos produzidos pelas revoluções socialistas, usam relativizações históricas e mentiras para justificar as atrocidades (quando são admitidas) e ainda elogiam os resultados econômicos e sociais alcançados pelos regimes socialistas, muito embora dezenas de milhões de pessoas tenham morrido de fome em sua vigência (Weinberg; Pereira, 2008; Kamel, 2007a; 2007b; Leal; Mansur; Vicária, 2007). Não bastasse isso, pesquisa feita pelo Instituto CNT/Sensus revelou que, segundo declarações dos estudantes, figuras históricas como Che Guevara e Lênin são comentadas em aula, na grande maioria das vezes, sob uma ótica positiva (Weinberg; Pereira, 2008).

Essas evidências corroboram a conclusão de que a escola brasileira tem sido eficaz em produzir consensos ideológicos de esquerda entre os alunos, mas, até pelo fato de estes não serem capazes de expressar suas ideias de maneira clara e coerente, vê-se que a escola fracassa por completo no desenvolvimento de competências básicas. No caso específico da geografia brasileira, o predomínio da teoria social crítica, tanto na academia como no sistema de ensino, pode ser assim atribuída à prática da doutrinação teórica e ideológica, nos três níveis de ensino.

*  *  *

* O Autor — que é Professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Paraná — agradece a colaboração dos estagiários Adriana Brito dos Santos Dadona, Fabiano Martins e Rosana Zafalon pelo trabalho de aplicação dos questionários nas escolas.


Referências Bibliográficas

 

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DINIZ FILHO, L. L. Certa má herança marxista: elementos para repensar a geografia crítica. In: KOZEL, S.; MENDONÇA, F. A. (Org.).Elementos de epistemologia da Geografia contemporânea. Curitiba: Ed. da UFPR, 2002. p. 77-108.

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KAMEL, A. Efeito didático. O Globo, 16 out. 2007b.

KAMEL, A. Livro didático e propaganda política. O Globo, 02 out. 2007a.

KRUGMAN, P. Internacionalismo pop. Rio de Janeiro: Campus; São Paulo: Publifolha, 1999.

LEAL, R.; MANSUR, A.; VICÁRIA, L. O que estão ensinando às nossas crianças? Época, n. 492, 22 out. 2007.

SARDENBERG, C. A. As elites socialistas. O Globo, 20 set. 2007. Disponível em: <http://www.escolasempartido.org/index.php?id=38,1,article,2,196,sid,1,ch> Acesso em: 21 jun. 2008.

VESENTINI, J. W. Brasil: sociedade e espaço – geografia do Brasil. 28. ed. São Paulo: Ática, 1998.

VESENTINI, J. W. Geografia: Geografia Geral e do Brasil: livro do professor. 1. ed. São Paulo: Ática, 2005.

VESENTINI, J. W. Geocrítica – Geopolítica: ensino da Geografia. Disponível em < http://www.geocritica.com.br/brasil.htm> Acesso em: 20 set. 2008.

WEINBERG, M.; PEREIRA, C. Prontos para o século XIX. Veja, n. 2074, 20 ago. 2008.


 

Anexo

 

Escola: _______________________________________________________ Ano letivo: 2008

Questionário: ___________ Aplicado em: ___________ Turma: ___________

 

Preencha o questionário abaixo sem qualquer preocupação de “errar” ou “acertar”, pois o objetivo é apenas identificar as visões que os alunos têm do espaço geográfico mundial.

 

01. A busca do lucro é a responsável pela crise ambiental global a que assistimos hoje. De fato, por ser um sistema sócio-econômico voltado para o lucro, com a produção de mercadorias, o capitalismo cria nos indivíduos uma mentalidade competitiva, voltada para a disputa. E, para a maioria das pessoas, assim como para as empresas capitalistas, o importante não é o que é bom para todos ou o que é justo, e sim o que lhes dará lucros mais rapidamente, mesmo que a longo prazo isso traga conseqüências negativas para a Humanidade.

( ) Verdadeiro ( ) Falso

 

02. O comércio internacional cria desequilíbrios entre países ricos e pobres, pois é impossível que todos os países do mundo tenham superávit comercial, de modo que os deficitários saem perdendo.

( ) Verdadeiro ( ) Falso

 

03. Os países do Terceiro Mundo são explorados pelos países do Primeiro Mundo porque são exportadores de bens primários, cujos preços sobem menos do que os dos produtos industrializados.

( ) Verdadeiro ( ) Falso

 

04. Os países do Terceiro Mundo são explorados pelas empresas multinacionais, pois essas empresas remetem lucros para o exterior.

( ) Verdadeiro ( ) Falso

 

05. Nos países do Terceiro Mundo, a superação do atraso econômico e da pobreza passa necessariamente pela industrialização autônoma, isto é, pela constituição de um parque industrial amplo, diversificado e integrado, sendo que os investimentos industriais devem ser realizados predominantemente pelo Estado e por empresas privadas nacionais, com tecnologia própria.

( ) Verdadeiro ( ) Falso

 

06. O liberalismo, com sua defesa do livre comércio entre as nações, é uma doutrina econômica vantajosa para o Primeiro Mundo e prejudicial para os países do Terceiro Mundo, que precisam adotar medidas protecionistas para se industrializar ou para tornar suas indústrias competitivas.

( ) Verdadeiro ( ) Falso

 

07. Os elevados níveis de desenvolvimento econômico e de bem-estar social vigentes no Primeiro Mundo resultam da exploração e dominação dos países do Terceiro Mundo.

( ) Verdadeiro     ( ) Parcialmente Verdadeiro      ( ) Falso

Justifique:

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

08. O que é um país subdesenvolvido?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

09. O que é um país dependente?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

 

10. O desenvolvimento da atividade industrial e a expansão do capitalismo produzem uma integração cada vez maior do mundo, uma interdependência entre todos os países, de tal modo que beneficia mais a alguns, concentrando a riqueza em certas áreas e aumentando a pobreza em outras.

( ) Verdadeiro ( ) Falso

 

11. O período histórico atual é marcado pela hegemonia econômica e militar dos EUA em escala mundial. Em relação à forma como os EUA exercem essa hegemonia, você classificaria sua visão como:

 

( ) Positiva                                                      ( ) Negativa

( ) Predominantemente positiva                                  ( ) Predominantemente negativa

 

12. Qual ou quais das afirmações abaixo podem ser indicadas como causas da crise do chamado “socialismo real” ou “socialismo realmente existente”?

 

a) O socialismo real fracassou porque os países socialistas viviam uma situação de isolamento econômico, já que não podiam estabelecer comércio com os países capitalistas.

b) O socialismo real fracassou porque os ideais socialistas foram aplicados de forma deturpada. O que existia nos países supostamente “socialistas” era na verdade um capitalismo de Estado.

c) Não foi o socialismo que fracassou, mas sim algumas experiências socialistas. Cuba é a prova disso, pois apresenta indicadores sociais excelentes e mantém-se socialista.

d) Durante a Guerra Fria, a corrida armamentista obrigou os países socialistas a investir pesadamente no setor militar, o que os inviabilizou economicamente. O fracasso do socialismo real foi resultado de uma derrota militar, portanto, e não de deficiências do modelo econômico socialista.

e) O planejamento econômico centralizado, base do modelo socialista, não foi capaz de industrializar países como Cuba, China e Angola, além de não haver resolvido o problema da pobreza e, em alguns casos, da fome, motivo pelo qual fracassou.

f) O planejamento econômico centralizado foi ineficiente em promover crescimento econômico e progresso tecnológico, ao passo que a economia de mercado, baseada na competição entre empresas privadas, mostrou-se eficaz.

g) O socialismo real fracassou porque a estatização total da economia cria uma burocracia gigantesca e ineficiente, prejudicando o funcionamento da economia.

h) Nos países socialistas, a ausência de democracia frustrou as expectativas de promover a igualdade social. De fato, nunca houve um país socialista democrático.

i) Há outra explicação, conforme segue:___________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________



[1] Esse livro foi selecionado para a pesquisa por três razões: a) por ter sido “o primeiro livro didático sobre o Brasil a incorporar a chamada geografia escolar crítica”, sendo que a sua primeira edição é de julho de 1984 (Vesentini, 2008); b) pelo enorme sucesso de vendas que alcançou desde então, a ponto de ter servido como referência para a reestruturação de quase todos os outros manuais de geografia do Brasil, segundo o próprio autor (idem, ibidem); c) por exemplificar muito bem o modo como a aplicação dos pressupostos da abordagem crítica e radical no ensino produziu visões distorcidas da realidade brasileira e mundial. O uso de uma edição do final dos anos 1990 é apropriado porque a crise da teoria crítica já durava cerca de duas décadas naquele momento, e assim a discrepância entre a realidade e o conteúdo dos livros didáticos de então é uma forte evidência explicativa do atual predomínio da geocrítica entre os geógrafos.

[2] É interessante notar que, enquanto a esquerda latino-americana diz que os países pobres são explorados por exportarem matérias-primas e alimentos a baixos preços, a esquerda européia e americana afirma frequentemente que a transferência de plantas industriais dos países desenvolvidos para o Terceiro Mundo faz reduzir o nível de emprego e de salário vigentes naqueles países. Ao que parece, certos setores da esquerda pensa que o mundo só pode ser justo se o comércio internacional deixar de existir.

[3] Se esses alunos pensarem da mesma forma em relação às diferenças de renda entre indivíduos, provavelmente devem concordar com o velho chavão socialista de que “toda propriedade é um roubo”

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