As críticas ao programa Escola Sem Partido somente demonstram o quanto ele é necessário

Por José Roberto Gimenez *

Tenho notado que os principais veículos de imprensa do país vem trazendo críticas frequentes ao programa Escola Sem Partido. Uma das recentes vozes a se manifestar foi a da presidente afastada, Dilma Roussef, dizendo que o programa pretende “nos transformar num bando de carneiros”. Muito provavelmente, na concepção dela, “não ser carneiro” significa o cidadão doar dinheiro para que ela possa viajar pelo país gastando cerca de 100 mil reais em cada viagem.

Porém, o que me preocupa não são as críticas dessa criatura ou das pessoas que a defendem abertamente, mas sim daqueles que se passam por “educadores” e escrevem artigos supostamente sérios atacando o programa e tentando ofuscar a visão de pais que se encontram alheios ao que vem acontecendo nas salas de aula. Para ter uma ideia do que eu estou falando, basta conversar um pouco sobre política, moral ou qualquer outro aspecto da vida social com um jovem egresso de uma universidade pública. Verá que, em sua grande maioria, eles apresentam as seguintes características:

1 – julgam ter uma opinião superior porque acreditam que foram “politizados” na escola.

2 – apresentam as mesmas ideias e opiniões sobre quase tudo (algumas bem bizarras).

3 – não conseguem expressar nenhuma opinião sobre qualquer assunto que não pertença ao conjunto de opiniões previamente formadas. Chegam a ter medo de se manifestar individualmente.

4 – apresentam reações de flagrante nervosismo quando suas crenças são confrontadas com a lógica ou com a realidade. Uma reação bem frequente é declararem algo do tipo: “não quero mais discutir isso com você – nós pensamos diferente”.

5 – evitam a todo custo dialogar certos assuntos com aqueles que julgam “pensar diferente”, mesmo que sejam membros da própria família.

6 – somente ficam a vontade quando estão entre aqueles que consideram “pensar igual”.

É certo que alguma coisa está muito errada na nossa educação. Por um lado, existe uma constante reclamação por parte dos professores (os de verdade), de que a qualidade dos alunos está caindo. E, por outro, embora afirmem o contrário, as escolas estão formando jovens preconceituosos, que baseiam seus pensamentos em rótulos e chavões pré-definidos, ao invés de usar a lógica e o raciocínio próprio para tirar suas conclusões. Parece que o mesmo artifício nefasto da “decoreba”, muito usado para produzir uma instrução de baixíssima qualidade, está sendo aplicado à capacidade de pensar, para produzir uma sociedade robotizada. O coletivo burro está se impondo sobre a inteligência individual.

Em um dos ataques ao Escola Sem Partido o Editorial do Estadão afirma que “o Movimento não faria muito caso – ou talvez nem existisse – se a doutrinação ideológica em sala de aula se prestasse a disseminar ideias conservadoras”. Este discurso não apenas admite a existência da doutrinação ideológica nas escolas, como também denuncia a visão ideológica e desonesta do jornal, em que tenta passar a versão falsa de que a não doutrinação seria também um tipo de doutrina. Afinal, o que são as ideias conservadoras? Seriam, por acaso, a obediência às leis, o respeito à constituição, a promoção de nossas instituições democráticas? No campo científico, então, seria a busca pela verdade? No campo moral, seria, por acaso, professar a moral vigente? Ou seja, a moral dos pais dos alunos?

Com total certeza a tal doutrinação “de ideias conservadoras” não seria o ensino religioso, pois é ponto pacífico que o ensino nas escolas deve ser laico. Também não poderia ser o nazismo nem o fascismo, pois estas formas ideológicas não são aceitas por ninguém em nosso país. Os esquerdistas tentam associar estas ideologias à uma suposta “direita”, mas qualquer pesquisador que não tenha sua capacidade racional afetada pelo bolor do marxismo sabe que estes movimentos têm essencialmente as mesmas características dos movimentos de esquerda. Então, eu não consigo entender que tipo de pessoa poderia ver no programa Escola Sem Partido uma corrente ideológica.

Na Folha de São Paulo, Demétrio Magnoli, em artigo bastante confuso, bem diferente de seu estilo habitual, reconhece o cenário de doutrinação ideológica existente nas escolas e até denuncia alguns detalhes que eu desconhecia, mas depois passa a criticar o programa considerando situações absolutamente hipotéticas. Chega ao ridículo de inferir que o programa poderia dar margem à contestação da Teoria Evolucionista. No Brasil esta teoria nunca entrou em conflito com nenhuma crença. Toda a população brasileira, mesmo a mais humilde, sabe que religião é uma coisa e ciência é outra. E ninguém se opõe que a escola siga unicamente a trilha científica. É muito estranho que, reconhecendo um fato concreto, ele prefira analisar a questão tendo como base um cenário imaginário.

Outro ataque absurdo que o programa vem sofrendo diz respeito à liberdade de expressão. Neste particular é importante lembrar que as crianças encontram-se nas salas de aula por uma imposição do estado e, portanto, são obrigadas a acompanhar tudo o que lhes é apresentado pelo professor. Se, do lado das crianças, nenhuma liberdade é conferida para repudiar o que lhe é imposto pelo professor, este também não pode ter a liberdade de dizer o que bem entende. A situação que se estabelece não é como a da imprensa falada ou escrita, em que o leitor/telespectador tem a liberdade de abandonar a leitura ou mudar de canal. Dessa forma, o que se está querendo vender como liberdade de expressão é, na verdade, um assédio. A liberdade de expressão presume uma audiência preparada para o contraditório, o que não ocorre nas salas de aula, pois as crianças não possuem conhecimento dos fatos e nem o menor discernimento para perceber as intenções do militante disfarçado de professor. Além disso, o processo de doutrinação ideológica utiliza basicamente a omissão de fatos, a falácia, a desonestidade e a mentira. Essas atitudes tomadas por um adulto contra crianças indefesas não é apenas um assédio, é uma covardia, é um crime.

Eu também sou professor e entendo que as restrições do Escola Sem Partido não representam nenhum entrave ao bom exercício do magistério. É certo que leciono disciplinas da área de exatas, onde fica fácil separar o joio do trigo, mas se eu tivesse que ensinar história, o faria sem nenhuma preocupação, apenas me atendo a narrar os fatos ocorridos, sem tentar distorcê-los. Se eu tivesse que ensinar algo relacionado a sexo (ainda que eu não veja necessidade de ensinar estas coisas na escola), seria mais fácil ainda, pois eu não tentaria alterar a orientação sexual de ninguém.

Então, eu só posso entender que essa gritaria contra o Escola Sem Partido parte exatamente daqueles que querem doutrinar os alunos e transformá-los em militantes de suas causas. Não por acaso grande parte destes ataques partem de alguns setores da imprensa. A velha técnica de repetir mil vezes uma mentira agora exige mais do que jornalistas desonestos. Para que a mentira vire verdade é necessário formar gente especialmente preparada para ser enganada.

Quem quiser pode criticar o movimento Escola Sem Partido, ou o que eu estou escrevendo, mas não deixe de depositar a contribuição para a vaquinha da Dilma.

* Engenheiro e professor.

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