Por Reinaldo Azevedo
Em agosto do ano passado [2005], o Conselho Nacional de Educação deu um ano para as escolas de segundo grau de todo o país passarem a ministrar aulas de filosofia e sociologia. Um ano. Reparem que o prazo expira no início do segundo semestre para um curso cujo planejamento é anual. É a dificuldade funcional da decisão dos gênios, onde brilha a inteligência de Marilena Chaui, aquela que acredita que o céu se ilumina quando Lula fala – embora ela já tenha mais de 60 e seja de esquerda…
O segundo grau no Brasil é um lixo. Tanto o público como o privado, com raras exceções nos dois casos. Professores que ganham salários miseráveis, em estruturas fossilizadas, sem chance de ascender profissionalmente, falam a alunos oprimidos ou pela miséria ou pela banalidade. Não é preciso fazer grande esforço para perceber a alfabetização precária mesmo das elites. O brasileiro comum se embasbaca em operações aritméticas simples. A quase totalidade dos universitários é incapaz de se expressar com correção.
Antes que nossos futuros marxistas recitassem a luta de classes, seria conveniente que aprendessem um pouco de matemática e língua portuguesa. O mais notável na decisão é que inexiste mão-de-obra para tanto. Ora, far-se-á como sempre: improvisa-se algum “humanista” na tarefa de desvendar as sombras da caverna de Platão.
A medida tem caráter ideológico. Dia desses, vi o material didático de história de uma renomada escola particular de São Paulo. É lixo submarxista. Os alunos são treinados para ver a história do país como uma seqüência de golpes das elites contra os interesses populares. No que diz respeito à história contemporânea, o imperialismo – americano, é claro – é culpado pelas mazelas do mundo.
Mesmo quando se sabe que há um conteúdo relativamente objetivo a ser ensinado, cobrado em vestibular, a coisa é assim. Imaginem como será quando o “sociólogo” e o “filósofo” estiverem obrigados apenas a “refletir” com os alunos. O único objetivo da medida é estimular o proselitismo e a patrulha. O capitalismo já faz pouco sucesso no Brasil, como vimos na campanha eleitoral. Os bananões preferem o Estado ineficiente a estatais privatizadas que funcionem. Precisamos convencer os nativos de que o mundo tem de ser justo, não eficiente. A boa notícia é que, nas escolas públicas, essa bobagem não vai dar em nada. Ainda que por maus motivos. Mas, nas escolas particulares, pode ser que a medida seja posta em prática. Que bom! O Brasil já tem muitos banqueiros. Precisamos de mais cineastas com bons sentimentos, não é mesmo?