No ano passado, o vestibular da Uncisal pediu aos candidatos que tomassem como argumento principal da Redação a frase: “Com efeito, a lógica consumista faz da disposição de consumir coisas uma necessidade vital”. Fiquei ressabiado: será que, neste ano, a universidade incorreu em nova tentativa mal disfarçada de avaliar conhecimento segundo critérios político-ideológicos?
Não pensem que a prova de redação é o único absurdo patrulheiro do Enem. Não é não! Há coisa que só não é pior porque não tem a mesma importância dessa prova, que representa 50% da nota total do exame. Um candidato pode acertar, sei lá, 90% das questões, mas “desrespeitar os direitos humanos” segundo o juízo do examinador. Já era! Um candidato que seja considerado um humanista exemplar, no entanto, ainda que notavelmente ignorante, pode suplantar o outro… Prova que permite esse tipo de coisa, entregando ao examinador tal poder discricionário, tem viés totalitário, ainda que não se perceba à primeira vista. Mas vamos ao ministro Aloizio Mercadante.
Abaixo, transcrevo a prova de redação do Enem. Algumas pessoas estão se esforçando para fazer uma leitura benigna do que vai abaixo. Ok. Cada um ache o que quiser. Daqui a pouco, vou postar mais uma fala deste incrível Aloizio Mercadante, e vocês verão como o tema da prova não deixa de ser uma espécie de desdobramento de sua, digamos, “tese de doutorado”, defendida na Unicamp, na última hora, sob escárnio de Delfim Netto, um dos neoaliados do petismo. A prova segue em vermelho.
Atenção! No manual, a exemplo do que se vê abaixo, não há qualquer marca deixando claro que o segundo parágrafo já integra um dos três “textos motivadores”. Fica tudo misturado. Nas instruções, brilha a quinta: “A redação que apresentar proposta de intervenção que desrespeite os direitos humanos receberá nota zero”. Leiam. Volto neste mesmo post para encerrar e no seguinte para analisar a fala de Mercadante.
Não vi no detalhe a prova do Enem. Sei que professores de cursinho divergem sobre a resposta de algumas questões, a maioria relacionada a interpretação de texto, que costuma mesmo ser terra de ninguém. Mas não vou me ater a isso agora. Quero aqui comentar o tema da redação.
Poucas pessoas se deram conta de que o Enem — quem quer tenha elaborado a prova — deu à luz uma teoria e obrigou os pobres estudantes a escrever a respeito, a saber: “O movimento imigratório para o Brasil no século XXI”. Ainda que houvesse efetivamente um fenômeno de dimensão tal que permitisse tal afirmação — não há —, cumpre lembrar que estamos apenas nos 12 primeiros anos do referido século.
No site A Técnica do Chute, o engenheiro Paulo César Pereira orienta os estudantes, candidatos e concurseiros em geral sobre como se sair bem nos testes de múltipla escolha sem conhecer necessariamente a matéria questionada. Uma das técnicas ensinadas é a do “viés ideológico”: conhecendo de antemão as simpatias e preferências políticas e ideológicas do examinador, o candidato pode descobrir facilmente o que eleconsidera ser “certo” e “errado”, sem necessidade de saber, de fato, o que é certo e o que é errado. Como, no Brasil, o viés ideológico das principais bancas examinadoras é sempre o mesmo, basta conhecê-lo para acertar algumas questões.
Se a técnica funciona — e funciona –, é porque se baseia num fato real: o viés esquerdista e politicamente correto que tomou conta do nosso sistema de ensino. Assistam aos vídeos (aulas 6, 7 e 8) e comprovem.