Por Reinaldo Azevedo
E agora vem o “Como queríamos demonstrar” a respeito do ministro Fernando Haddad. Ele é autor de um livro chamado Trabalho e Linguagem- Para Renovação do Socialismo. Abaixo, há alguns trechos que foram publicados na revista Época. Seguem em vermelho. Comento em azul. Vocês verão que Haddad consegue ser pior do que os autores de livros didáticos.
União Soviética: “O sistema soviético não tinha nada de reacionário.Trata-se de uma manifestação absolutamente moderna frente à expansão do capital.”
Tão moderna que, como vimos, deu no que deu. A alternativa “socialista” à expansão do capital, como está demonstrado, tem sido a China. Que, do socialismo, só preservou a ditadura. Ah, sim: a burocracia soviética deveria ter ouvido Haddad antes de optar pela autodissolução…
O capitalismo: “Sob o capital, os vermes do passado, por vezes prenhes de falsas promessas, e os germes de um futuro que não vinga concorrem para convalidar o presente, enredado numa eterna reprodução ampliada de si mesmo, e que, ao se tornar finalmente onipresente, pretende arrogantemente anular a própria história. Esse é o desafio que se põe aos socialistas. A tarefa, 150 anos atrás, parecia bem mais fácil”.
Como se vê, o capitalismo tem “vermes” do passado, e o socialismo, “germes” do futuro. O que vai acima, acreditem, é uma bobajada sem sentido. Mas se destaque que, há 150 anos, segundo ele, as coisas eram mais fáceis. Ainda que o socialismo tenha matado quase 200 milhões de pessoas. Era o germe do futuro…
Democracia: “As modernas teorias burguesas da democracia encaram-na como um método de seleção de líderes que manufaturam as vontades de uma massa apaixonada ou como um método de seleção de plataformas políticas por cidadãos racionais orientados pelo auto-interesse. A manipulação e a persuasão, num e noutro caso, seriam possibilidades oriundas, respectivamente, ou da própria irracionalidade do eleitorado em seu conjunto, ou da falta de plena informação derivada dos altos custos a ela associados”.
Deus do céu! Esta é a leitura que comunistas, como Haddad, têm da democracia. Em parte ao menos: só naquela em que “líderes manufaturam as vontades de uma massa apaixonada”.
PT: “Mesmo sem ter conseguido elaborar uma plataforma política verdadeiramente socialista, (o PT) quase chegou ao poder pelo voto (nos anos 1980). (…) Nos anos 1990, o PT equivocadamente resolveu atribuir às suas virtudes a responsabilidade por seu fracasso eleitoral. Hoje, infelizmente, o partido que funcionou como uma espécie de ‘psicanalista social’ é que está precisando de uma boa terapia”.
Traduzindo: Haddad acredita que o PT fez mal em aderir a uma plataforma mais moderada. Ele gostava da versão mais radical.
MST: “Trata-se de um movimento que mudou completamente a pauta clássica de reivindicações: ele não reclama maior remuneração ou menor jornada, nem tampouco favores do Estado. (…) Revolucionariamente, o MST quer crédito, apoio técnico e autonomia. (…) São iniciativas dessa natureza, progressivas em todas as dimensões da vida social, que devem sempre chamar a atenção dos socialistas e lhes servir de inspiração para sua conduta política”.
Viram só? O homem endossa os métodos do MST, caracterizados pela ação direta. Como vai acima, parece que o movimento não vive pendurado nas tetas do estado. Aliás, os sem-terra têm uma rede de escolas e hoje contam com cursos em universidades públicas especialmente dirigidos a eles. Como demonstra a VEJA desta semana, são exemplos escandalosos de manipulação ideológica. Haddad patrocina tudo.
O que vai acima explica o que está em curso no MEC e a fala do ministro nesta terça-feira. Por que ele iria combater aquilo em que ele mesmo acredita?
– Por que ele vai falar em nome da democracia se ele não acredita na democracia, como deixou claro no livro?
– Por que ele vai combater a manipulação ideológica se ele considera o MST — uma verdadeira indústria de ideologia — um exemplo para os socialistas?
– Por que ele vai combater um livro que mente sobre a URSS se ele, como autor, faz o mesmo?
– Por que ele vai se opor à demonização do capitalismo e à apologia do socialismo se ele escreve, ainda que no limite do compreensível, com o seu sotaque falsamente acadêmico, a mesma coisa?
Publicado no blog do autor em 2 de outubro de 2007