Lavagem cerebral na sala de aula

Por Thomas Sowell

O governador Bill Owens, do estado do Colorado, desobedeceu ao jargão “liberdade de expressão” e veio em defesa de um jovem de 16 anos, estudante do ensino médio, que gravou seu professor de geografia usando o tempo da aula para atacar o presidente Bush e compará-lo a Hitler.

O advogado do professor fala sobre a Primeira Emenda, que garante a liberdade de expressão. Mas liberdade de expressão nunca significou expressão livre de conseqüências. Mesmo sem considerar as leis contra extorsão ou difamação, você pode insultar seu chefe ou seu cônjuge, mas corre o risco real de ser processado.

Infelizmente, há muita confusão tanto sobre liberdade de expressão quanto sobre liberdade acadêmica. Em muitas escolas espalhadas pelo país, professores sentem-se no direto de usar uma audiência cativa para descarregar suas opiniões políticas, quando o que eles devem, supostamente, fazer é ensinar geografia, matemática ou qualquer outro assunto.

O público ouve, ocasionalmente, casos de discursos bizarros e violentos de algum professor universitário ou de ensino médio. O que raramente chama a atenção da mídia é a lavagem cerebral muito mais ampla, feita por pessoas cujas opiniões podem não ser tão radicais, mas que não são, por isso, menos irrelevantes, considerando a finalidade da contratação dessas pessoas. Alguns dizem que os professores devem ensinar “ambos os lados” da história – mas, eles não devem ensinar lado nenhum, se o assunto estiver fora do escopo da disciplina ensinada.

A liberdade acadêmica é a liberdade para fazer coisas acadêmicas – ensinar química ou contabilidade da forma que você considera que a química ou a contabilidade deva ser ensinada. É também a liberdade para você se engajar em atividades políticas com outros cidadãos – no seu tempo livre, fora da sala de aula – sem ser demitido.

Em nenhum outro lugar as pessoas consideram que é correto engajar-se em política ao invés de fazer o trabalho para o qual se foi contratado. Quando você contrata um bombeiro hidráulico para consertar um vazamento, você não quer encontrar sua casa inundada, enquanto ele passa o tempo conversando sobre eleições do Congresso ou sobre política externa.

Não importa se as opiniões políticas do bombeiro são boas, ruins ou indiferentes, quando ele está sendo pago para um trabalho completamente diferente.

Somente entre os “educadores” há tanta confusão, e a mera exposição do que eles estão fazendo às escondidas dos pais e dos pagadores de impostos é considerada como uma violação de seus direitos. A estabilidade no emprego acadêmico parece conferir carte blanche.

O professor de geografia do Colorado não é o único. Um professor da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) escreveu um artigo ressentido no Chronicle of Higher Education, denunciando tentativas de estudantes em gravar aulas de professores que impunham suas opiniões políticas nas aulas, ao invés de lecionarem o assunto para o qual eles foram contratados.

Por todo o país, da escola fundamental à universidade, estudantes relatam a existência de doutrinação política em salas de aula. Que ela seja quase sempre feita pela esquerda é de somenos importância. O fato de que seja doutrinação ou propaganda política, ao invés de assunto acadêmico, é que é crucial [1].

O desequilíbrio da filiação partidária dos professores universitários é um sintoma e não o problema em si [2].

Se os físicos ensinassem física e os economistas ensinassem economia, o que eles fizessem politicamente em seu tempo livre não seria mais relevante do que se eles fossem nadar ou esquiar. Mas a política se imiscuiu, não só na sala de aula, mas também nos critérios de contratação de professores.

Professores conservadores, mesmo com excelência acadêmica reconhecida, têm poucas chances de contratação em muitas instituições de ensino superior. As chances são as mesmas para quem se prepara para tornar-se professor do ensino básico. Alguns estudantes de faculdades de educação dizem que, para serem considerados qualificados como professores do ensino fundamental ou médio, eles devem ver a docência como um meio de transformação social – significando com isso, transformação na direção da esquerda.

Tais atitudes levam ao desequilíbrio político entre os professores. Na Universidade de Stanford, por exemplo, há 275 professores membros do Partido Democrata e 36 professores membros do Partido Republicano. Tais números não são incomuns em outras universidades – apesar de toda a retórica sobre “diversidade”. Somente diversidade física parece importante.

A estreiteza ideológica congênita surge, não só na contratação e na docência, mas também nos códigos rígidos que regulam o discurso dos estudantes no ambiente universitário, criados pelos mesmos acadêmicos que reclamam, estridentemente, quando a sua liberdade de expressão é discutida.

A longevidade dessa situação dependerá da longevidade da tolerância dos eleitores, dos pagadores de impostos, dos conselhos curadores das universidades e dos pais.

Publicado por Townhall e por MidiaSemMáscara.org

Tradução Antônio Emílio Angueth de Araújo

[1]Quem quiser se aprofundar sobre o tema da doutrinação em sala de aula, não deve deixar de ler David Horowitz, The Professors: The 101 Most Dagerous Academics in America (Os professores: Os 101 Mais Perigosos na Universidade Americana), Regnery Publishing, Inc., February , 2006.Quem não tiver acesso ao livro, pode ler um excerto de sua introdução aqui. Sobre os professores universitários tupiniquins, suas besteiras e sua doutrinação dentro e fora da sala de aula, o prof. Olavo já nos instruiu o bastante com a série O Imbecil Coletivo. Mesmo assim, vale consultar o sítio Escola Sem Partido, Educação sem Doutrinação, que traz histórias brasileiras sobre esse fenômeno mundial. Aqui no Mídia Sem Máscara há também alguns artigos que tocam no problema. Ver, por exemplo, Inferno Acadêmico, de João Costa, ou Opressão e propaganda nas escolas: depoimentos de estudantes, de Patrícia C. de Andrade. Do sítio O Indivíduo, vale a pena ver: A geografia do anticapitalismo: Não deixe o professor de geografia transformar seu filho num militante esquerdista, de Álvaro Velloso e Sobre provas, professores e alunos, de Fábio Campos. (N. do T.)

[2] Segundo estudo conduzido por Andrew Jones do Center for the Study of Popular Culture e que inclui 32 instituições universitárias americanas, de 1.531 professores pesquisados, 1.397 se declararam democratas e 134 republicanos, um placar de mais de 10 a 1. Para os interessados, clicar aqui. (N. do T.)

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