Livros aprovados pelo MEC criticam FHC e elogiam Lula

Reportagem da Folha de São Paulo, edição de 1º de maio de 2011: “Obras atacam privatizações feitas pelo tucano e minimizam o mensalão”.

Livros didáticos aprovados pelo MEC (Ministério da Educação) para alunos do ensino fundamental trazem críticas ao governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e elogios à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Uma das exigências do MEC para aprovar os livros é que não haja doutrinação política nas obras utilizadas.

O livro “História e Vida Integrada”, por exemplo, enumera problemas do governo FHC (1995-2002), como crise cambial e apagão, e traz críticas às privatizações.

 

Já o item “Tudo pela reeleição” cita denúncias de compra de votos no Congresso para a aprovação da emenda que permitiu a recondução do tucano à Presidência.

O fim da gestão FHC aparece no tópico “Um projeto não concluído”, que lista dados negativos do governo tucano. Por fim, diz que “um aspecto pode ser levantado como positivo”, citando melhorias na educação e a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Já em relação ao governo Lula (2003-2010), o livro cita a “festa popular” da posse e diz que o petista “inovou no estilo de governar” ao criar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

O escândalo do mensalão é citado ao lado de uma série de dados positivos.

Ao explicar a eleição de FHC, o livro “História em Documento” afirma que foi resultado do sucesso do Plano Real e acrescenta: “Mas decorreu também da aliança do presidente com políticos conservadores das elites”. Um quadro explica o papel dos aliados do tucano na sustentação da ditadura militar.

Quando o assunto é o governo Lula, a autora -que à Folha disse ter sido imparcial- inicia com a luta do PT contra a ditadura e apenas cita que o partido fez “concessões” ao fazer “alianças com partidos adversários”.

Em dois livros aprovados pelo MEC, só há espaço para as críticas à política de privatizações promovida por FHC, sem contrabalançar com os argumentos do governo.

MENSALÃO

Já na apresentação da gestão Lula, há dois livros que não citam o mensalão.

Em “História”, uma frase resume o caso, sem nomeá-lo: “Em 2005, há que se destacar, por outro lado, a onda de denúncias de corrupção que atingiu altos dirigentes do PT, inúmeros parlamentares da base do governo no Congresso e alguns ministros do governo federal”.

A Folha não conseguiu falar com os autores da obra.

Uma das críticas feitas a Lula é o fato de ter continuado a política econômica do antecessor.

Os livros aprovados pelo MEC no Programa Nacional do Livro Didático são inscritos pelas editoras e avaliados por uma comissão de professores. Hoje, 97% da rede pública usa livros do programa.

São analisados critérios como correção das informações e qualidade pedagógica. As obras aprovadas são resenhadas e reunidas em um guia, que é enviado às escolas públicas para escolha dos professores. 

Reportagem de Luiza Bandeira e Rodrigo Vizeu, de São Paulo

OUTRO LADO

Ministério da Educação diz que adota critérios técnicos para aprovar obras

DE SÃO PAULO

O Ministério da Educação não comentou o tratamento dado a FHC e Lula nos livros.

Em nota, listou os critérios técnicos que usa para aprovar os livros, como o que veta obras que “fizerem doutrinação religiosa ou política”.

A autora Joelza Ester Rodrigues, do livro “História em Documento”, da editora FTD, afirmou que seu livro é imparcial.

Ela disse que detalhou as alianças com “conservadores” só no caso de FHC porque o contexto do livro deixa pressuposto que os “partidos adversários” aos quais o PT se aliou também eram conservadores.

A Abril Educação, que controla as editoras Ática e Scipione, afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que tem uma “política voltada à pluralidade de seus autores e à independência e excelência editoriais”.

O professor Claudino Piletti, coautor do livro “História e Vida Integrada”, da editora Ática, concorda que sua obra é mais favorável ao governo Lula. “Não tem o que contestar”, afirmou.

Ele disse que é responsável pela parte de história geral da obra e que a história do Brasil ficou a cargo de seu irmão, Nelson Piletti, que está na Itália e não foi encontrado pela reportagem.

À Folha Claudino disse que critica o irmão pela tendência pró-Lula e vai tentar convencê-lo a mudar a obra.

“Não dá para ser objetivo. O professor de história tem suas preferências, coloca sua maneira de pensar. Realmente ele [Nelson] tem esse aspecto, tradicionalmente foi ligado à esquerda e ao PT”, afirmou Claudino.

A reportagem não conseguiu encontrar até o encerramento desta edição autores de três obras das duas editoras: “História”, “Projeto Radix – História” e “História em Projetos”. A assessoria da Abril Educação não forneceu os contatos deles.

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