Reportagem de Mauri König, publicada na Gazeta do Povo do Paraná (edição de 25.09.2007), sobre o capítulo 3º do Livro Didático Público do Estado do Paraná. Leia aqui a entrevista completa feita com o coordenador do ESP, Miguel Nagib.
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No capítulo três da disciplina de Educação Física, o livro didático público recorre ao esporte e à televisão para afirmar que ambos, quando associados, sofrem influência do sistema capitalista para explorar e dominar as massas, impondo suas idéias políticas e filosóficas. Seriam valores úteis ao capitalismo o respeito às regras, a derrota como aprendizado, a competição, a premiação unicamente ao vencedor.
“O que o autor (deste capítulo) não enxerga é a afinidade ontológica entre o esporte de competição – preferido por 9 entre 10 pessoas – e o regime capitalista. Ambos exigem o respeito às regras, o espírito de equipe, o esforço para aprimorar o desempenho, a aceitação da derrota, a vontade de vencer, a recompensa pelo esforço”, diz o coordenador da associação Escola Sem Partido, Miguel Nagib.
Os países comunistas não aboliram a competição no esporte e, não por acaso, apesar do fracasso econômico, mantiveram a atividade esportiva num nível de desempenho comparável ao dos países capitalistas. “Durante o nazismo, por exemplo, o esporte era um campo de afirmação da pretendida superioridade ariana. Em Cuba, o esporte é usado como sucedâneo incruento de uma guerra imaginária contra os Estados Unidos”, compara Nagib.
“O governo cubano investe todas as suas mirradas energias nessa pantomima de guerra”, diz o advogado. “Atleta cubano recebe tratamento especial, tem direito a comer um frango por semana em época de competição. Só não pode fugir do país”.
Nagib reconhece que nos países capitalistas a televisão e os meios de comunicação em geral são especialistas em criar artificialmente um clima de excitação coletiva em torno de certos eventos esportivos, como acontece no Brasil com a Copa do Mundo. “É evidente que existe manipulação nessas ocasiões e que muita gente ganha dinheiro com isso, mas ninguém é obrigado a comprar camiseta da seleção e a sair pela rua tocando corneta se não quiser.”
Para o advogado, seria ingenuidade ignorar a influência negativa do dinheiro sobre os esportes, assim como sobre a arte, a política, a religião, a educação. É preciso examinar o lado sombrio dessa relação, mas de forma equilibrada e objetiva. “Por outro lado, uma crítica honesta não poderia deixar de mencionar, além dos aspectos positivos e negativos do regime capitalista, também a situação dos esportes nos países que adotam o regime comunista.”