Por José Roberto Pinto de Góes
Aconteceu terça-feira passada, dia 23, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Dois parlamentares americanos, convidados pelo Programa de Pós-Graduação em História, debatiam legislação eleitoral, quando foram “descobertos” pelos participantes de uma assembléia de servidores técnico-administrativos, reunidos no auditório vizinho. O que se seguiu foram cenas de falta de educação, intolerância, violência, truculência e tudo mais que se junta para instaurar o fascismo. A segurança teve de ser chamada para conduzir os parlamentares para fora da universidade. Uma vez no térreo, os dois foram mais uma vez cercados e insultados por funcionários e alunos. Jogaram água, detergente, ovos e farinha neles, enquanto ameaçavam decapitá-los, a exemplo do que fazem os fanáticos da al-Qaeda, no Iraque.
Se queriam deixar o republicano Erik Paulsen e a democrata Susana Mendoza apavorados, conseguiram. Se queriam matá-los, não tiveram coragem e tiveram de se contentar em destruir os vidros do carro do consulado americano. Claro, não faltou a queima da bandeira dos Estados Unidos.
Na página da Uerj, na internet, apareceu um link para a seguinte notícia, publicada pelo jornal “O Dia”: “Reitor da Uerj critica trote em americanos”. Trote. Isto bem podia ser o fim, mas não é, infelizmente. Chamar o que aconteceu de trote não é só desfaçatez, é também um certo costume. Nos “trotes” que acontecem na Uerj, ano após ano, muitos crimes são cometidos — constrangimentos, humilhações, violências físicas — e nunca ninguém é punido.
A reitoria divulgou uma nota de repúdio ao acontecido e abriu uma comissão de sindicância para averiguar responsabilidades. É pouco. Deve à sociedade muito mais. Deve uma queixa à polícia e um convite aos parlamentares americanos para que retornem, para um pedido formal de desculpas. Isso interessa mais a nós do que a eles.
Mas é improvável que o reitor da Uerj tome tais iniciativas. No Brasil, neste limiar do século XXI, nada mais escandaliza. A UnB não criou uma comissão para conferir atestados de pureza racial e ficou por isso mesmo? A Uerj também é assim, ocupada por grupos de militantes intolerantes e impacientes para iniciar uma revolução purificadora. Levam Che no peito e Mussolini no coração.
É complicada a situação da universidade. Quando a ditadura acabou, entendeu-se que para democratizá-la era preciso dividir “mais justamente” a responsabilidade da direção da instituição entre docentes, alunos e funcionários. Como se alunos de 17, 18, 19 e 20 anos pudessem assumir esta responsabilidade. Como se a maior parte dos funcionários estivesse obrigada a pensar na universidade senão como mesquinha fonte pagadora. Só vendo se acredita na semelhança das eleições de reitores e de políticos. Tem trio elétrico em ambas.
As sucessivas greves nas universidades públicas não são efeito apenas dos, reconhecidamente, baixos salários, também se alimentam desta anomalia. Na maior parte das vezes, são decididas e conduzidas por um conluio entre professores sindicalistas, sindicatos de funcionários e alunos (generosos, mas de pouco discernimento), militantes de partidos de esquerda, do tipo PT, PSTU, PC do B e, logo mais, o tal do PSOL. Enquanto isso, a maior parte assiste a tudo bestificada. Assim como a Uerj assistiu, semana passada, ao quase linchamento de duas pessoas.
Quando o fascismo não é contido, prospera e sabe-se lá onde vai dar (sabe-se onde já deu, mas sempre pode ser pior). A Uerj tem obrigação de se empenhar em identificar os funcionários e os alunos que participaram da tentativa de linchamento e entregar os nomes à polícia. Sob pena de se ver do mesmo lado dos que querem meter o pau e cortar o pescoço dos gringos. O fascismo não faz acordo.