Depois da apostila de História e Geografia do ensino médio, cujo viés esquerdista foi denunciado por Mírian Macedo (vejam aqui e aqui), surge agora mais uma evidência de doutrinação ideológica no Sistema COC de Ensino. As vítimas, desta vez, são alunos do ensino fundamental.
Trata-se de um teste multidisciplinar quase que totalmente baseado num texto sobre Cuba – pessimamente redigido, por sinal.
A prova – como vocês poderão confirmar clicando aqui – revela muito menos pelo que diz do que pelo que esconde. Observem: não há uma única palavra sobre os aspectos negativos do socialismo castrista. A falta de liberdade (de imprensa, de associação, de expressão, de locomoção, política, religiosa, econômica, acadêmica e cultural); a repressão e a violência contra os adversários do regime; as centenas de milhares de exilados, as dezenas de milhares de mortos e presos políticos, as violações aos direitos humanos, os campos de trabalho forçado, a destruição da economia, a miséria e o isolamento em que vive a população, o controle estatal sobre as organizações sociais, o atraso tecnológico, nada disso aparece. Embora se diga que “após meio século no poder, [Fidel] renunciou ao governo, assumindo Raúl Castro, seu irmão”, a palavra “ditadura” simplesmente não é pronunciada.
Definitivamente, os fracassos e os crimes do socialismo não são detectados pelo radar desses abnegados defensores do “pensamento crítico”.
Mas não faltam, obviamente, os costumeiros elogios ao sistema de saúde (questões 27 e 42), aos avanços na área da pesquisa médica (questão 37), ao desempenho dos atletas cubanos (questão 16) e até aos “charutos de altíssima qualidade” fabricados na ilha (questão 32).
O nome de “Che” Guevara é mencionado de forma absolutamente gratuita em três questões de Biologia (5, 17 e 22), com a intenção manifesta de despertar ou fomentar a curiosidade e a admiração dos alunos pelo garoto propaganda do comunismo.
O dispositivo de “visão crítica” só é acionado quando o assunto é o capitalismo ou os EUA.
Assim, o enunciado da questão 24 recorda ao aluno que Cuba “foi símbolo da resistência ao capitalismo propagado pelos EUA”, sendo certo que o vocábulo “resistência” tem, aí, o sentido político inequívoco de reação heróica a uma força opressora.
No item II da questão 38, o examinador quer saber se o aluno aprendeu direitinho quando o professor disse em sala que os EUA só ajudaram na independência de Cuba, em 1898, “por interesse”, o que também é dito no texto e nos enunciados das questões 32 e 41.
Mas o “ponto alto” da prova é a questão 18, que transcrevo a seguir exatamente como está:
O Brasil tem como marca, em sua evolução histórica, a limitação no desenvolvimento econômico estabelecido no Pacto Colonial imposto, do século XVI ao XIX, por sua metrópole, Portugal. Diante desse fato, fica evidente que, desde as grandes navegações até os dias de hoje, a globalização se faz cada vez mais presente, revelando que, na relação entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos, quem ganha a luta pela liberdade de disputa por mercados consumidores é aquele que se mantém cada vez mais distante da exploração das potências econômicas mundiais. O socialismo idealizado não pode ser visto como um pesadelo, em que as regras a serem respeitadas por essa globalização da exploração da mão-de-obra vem de cima para baixo, ou seja, o hemisfério norte mantém sua soberania sobre o hemisfério sul. A prova está também no modo de administrar o país vigente desde o seu processo de colonização até a sua emancipação colonial.
Quando se refere à exploração histórica de uma nação, é possível afirmar que:
a) uma ex-colônia de povoamento sempre será vista como uma nação atrasada tecnologicamente.
b) as colônias de exploração do período das Grandes Navegações hoje são todas grandes potências econômicas.
c) os EUA são um exemplo de que o país, mesmo sendo ex-colônia, organizou-se, seu povo passou a exigir melhores condições de vida, superou todas as dificuldades de uma ex-colônia e se tornou o principal país da globalização atual.
d) tanto a África como as Américas são territórios de ex-colônias de povoamento e não tiveram, em seu território, colônias de exploração.
e) Brasil e EUA são ex-colônias de povoamento, porém os EUA são a maior potência socialista mundial e diferencia-se do Brasil pelo seu contexto histórico.
Não se prendam aos erros de português, nem se preocupem com o gabarito. O que importa, aqui, é o conteúdo das divagações que precedem o enunciado. Afinal, o que significa, em língua civilizada, “ganhar a luta pela liberdade de disputa por mercados consumidores”? É certo afirmar que Cuba, Zimbábue e Coréia do Norte estão ganhando essa luta, enquanto China, Brasil e Índia – cada vez menos distantes da “exploração das potências econômicas mundiais” –, a estão perdendo?
E o que dizer da segunda parte do discurso? Tirando a afirmação de que “o socialismo idealizado não pode ser visto como um pesadelo”, a frase que termina em “hemisfério sul” é rigorosamente ininteligível. Sorte dos alunos que, além disso, ela também era inteiramente desnecessária à compreensão das alternativas, servindo apenas para reforçar confusas noções ideológicas presumivelmente transmitidas pelo professor durante a aula.
Essa prova contém a essência da doutrinação esquerdista: esconder dos alunos as atrocidades cometidas pelo socialismo real, para vender-lhes – no caso do COC, literalmente – a crença de que o ideal socialista “não pode ser visto como um pesadelo”.
Tenho lido muita coisa tendenciosa e mal escrita desde a criação do ESP, mas essa prova me surpreendeu – e uma prova diz muito sobre aquilo que está sendo ensinado aos alunos.
De quantos alunos estamos falando? Cem? Duzentos? Nada disso. Trata-se, no caso, de um Simulado Nacional aplicado por um sistema de ensino que possui mais de 250 escolas parceiras e se gaba de prestar serviços educacionais a mais de 200.000 alunos!
O ESP sugere aos pais desses jovens que fiquem atentos ao que está sendo ensinado aos seus filhos, e que considerem seriamente a hipótese de processar o colégio com base no art. 20 do Código de Defesa do Consumidor.