Coando mosquitos e engolindo camelos

Por Luiz Diniz Filho*

Já faz mais de um mês que estive na escola do meu filho para assistir a uma palestra sobre violência (eu queria ter feito um relato disso antes, mas estive sem tempo). A palestra foi realizada porque alguns alunos da escola foram investigados e/ou advertidos pelos seguintes comportamentos inapropriados: a) andaram fazendo gozações com uma funcionária do colégio no Twitter; b) alguns alunos levaram bebida alcoólica para o colégio, e mais de uma vez; c) acharam uma faca escondida no banheiro.

Quando a palestra terminou e os pais foram convidados a falar, decidi fazer uma intervenção que, embora pudesse estar fora do assunto, serviria para dar algum propósito ao tempo que passei ali.

Comecei dizendo que, se a escola está mesmo preocupada em combater a violência, deveria repensar os conteúdos que estão sendo ensinados aos alunos. Afinal, os professores estão ensinando que invasão de terras (que eles preferem chamar “ocupação”) é algo legítimo, embora seja uma prática ilegal e inequivocamente violenta. Quando um bando de pessoas entra sem autorização nas terras e até na casa de outra pessoa empunhando foices, isso não é violência? Com certeza, muitíssimo mais violento do que fazer bullying no Twitter… E eu nem falei sobre depredações, saques, agressões e assassinatos.

Comentei também que os livros didáticos que eles usam são de péssima qualidade e defendem ideologias que legitimam o uso da violência como forma de ação política. Referi-me explicitamente aos livros de Mário Schmidt e de Marilena Chaui, inclusive complementando que o primeiro já foi muito criticado, até em matérias de jornal, por sua péssima qualidade. Livros como o dele elogiam a Revolução Cultural chinesa sem dizer uma linha sobre as dezenas de milhões de mortos que ela produziu. Mas problema mesmo é tirar sarro dos outros.

Finalmente, citei o caso de Che Guevara, que é apresentado aos alunos como um herói. Citei uns dois ou três casos conhecidos (mas não pelos alunos) de atrocidades que esse sujeito cometeu ou mandou que cometessem.

Um dos professores (que, por coincidência, já foi meu aluno de mestrado) afirmou que esse tipo de conteúdo é um caso isolado, pois há só um professor na escola (justamente um de geografia) que faz esse tipo de apologia esquerdista em sala. Ora, se fosse assim, então ele deveria estar selecionando os livros didáticos de todas as matérias…

Uma professora respondeu que, no que diz respeito aos livros didáticos, não há o que fazer, pois eles recebem aquelas listas de livros a serem selecionados e não dá para fugir desse tipo de conteúdo. Bom, eu sei disso melhor do que ninguém, mas, na mixórdia que são os livros didáticos, é possível diferenciar o muito ruim do menos pior. Não é possível que o livro de Mário Schmidt esteja nesse segundo grupo!

Outras intervenções de pais e professores foram feitas (os pais cujos filhos foram advertidos ignoraram o que eu falei, o que é compreensível, e trataram de seus problemas específicos). Entre as falas que foram feitas, destaco apenas a de uma professora segundo a qual a escolha dos livros didáticos é feita coletivamente pelos professores, que avaliam a lista de livros recomendados pelo MEC e discutem qual deles deve ser usado. Bem, isso contradiz totalmente o que fora dito sobre o problema da doutrinação ideológica ser uma prática de um único professor! Mas o que eu respondi ao comentário dela foi apenas que, sendo assim, fico mesmo bastante preocupado. Afinal, se os professores avaliam vários livros de uma lista e a maioria decide que os melhores são os de Mário Schmidt e de Marilena Chaui… temos de fato um problema!

Enfim, não tenho certeza se agi bem ao aproveitar uma palestra sobre violência para introduzir a questão da doutrinação ideológica. O problema é que eu não vi nenhum outro espaço para tratar disso com os pais, pois a Associação de Pais e Professores só se reúne de vez em quando, com pouca gente, e apenas para fazer a prestação de contas do dinheiro que está sendo investido em melhorias no espaço físico da escola. Nunca tratam de questões pedagógicas.

Além disso, não sei se a minha mudança de assunto foi tão radical assim. Realmente, não é contraditório ensinar aos alunos que é feio beber enquanto não for de maior e fazer bullying no Twitter, mas que é bonito desrespeitar a lei, impor sua vontade pela força e até matar gente em nome de uma ideologia?

Professor do Depto. de Geografia da Universidade Federal do Paraná

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