Por Lucas G. Freire
Primeiramente, parabenizo-os pelo trabalho do “Escola Sem Partido”. Hoje, sou aluno de pós-graduação e completei dois cursos superiores, um em universidade pública e outro em universidade particular católica. Penso que as habilidades adquiridas ao longo desses cursos, por um motivo ou por outro, me prepararam para enxergar melhor que aquilo que consideramos “dados” são, no fundo, interpretações orientadas por teorias específicas.
Contudo, um aluno de Ensino Médio tem maior dificuldade para enxergar tal coisa. No meu tempo de escola, quando apresentava minhas objeções à teoria da evolução, à filosofia pós-moderna e relativista embutida nas disciplinas diversas, desde literatura até biologia, era tido como um dogmático que se recusava a aceitar os “fatos”. Quando apresentava minhas objeções à idéia de que o lucro vem da exploração do trabalho, era visto como uma pessoa sem visão profunda do assunto. Quando afirmava que a falta de liberdade econômica, e não o contrário, havia gerado a grande depressão do começo do século XX, me diziam: “você é ainda novo, não descobriu a verdade sobre o assunto”. E assim por diante.
Minha situação talvez seja semelhante à de alguns alunos. Penso que os seguintes fatores contribuem para isso:
1- Falta de informação: em primeiro lugar, os alunos não aprendem a enxergar o mundo pelos óculos teóricos, eles sequer sabem da existência de óculos quando olham para o mundo. Pensam que têm acesso direto – neutro, não teórico – à realidade. Curiosamente, os marxistas afirmam a importância de reconhecer esse fator, mas obviamente não a praticam nas escolas. Em segundo lugar, conhecimento de explicações alternativas para os fenômenos. Poucos sabem, por exemplo, da variedade de propostas para modelos atômicos, ou para modelos do DNA, ou mesmo de outras teorias científicas para explicar a deriva continental, a formação de fósseis, etc. Em suma, os alunos precisam ter noções sobre como a ciência funciona, em termos gerais.
2- Ênfase doentia no vestibular: a escola se limita ao conteúdo do vestibular, tal como a intelligentsia o dita. É simples: as universidades federais, que em geral são as mais almejadas pelos alunos, determinam a bibliografia – ou o viés – específico. As escolas e cursinhos limitam-se a ensinar o que é pedido. A ênfase sai da educação e cai sobre o treinamento (ou adestramento) para responder às questões do vestibular local.
3- O politicamente correto / uma visão de mundo secular-humanista: claramente, o que nos é ensinado nas escolas é um sistema, um sistema que envolve com certeza alguns nomes como Marx, Freud, Nietzsche, dentre outros. Esse sistema forma uma visão de mundo na qual o aluno se vê submerso.4- Ausência dos pais: os pais não se importam mais com os três fatores acima, desde que o filho garanta sua vaga em uma boa instituição de ensino superior. Boa, segundo algum critério governamental, diga-se de passagem.5- Regulação governamental sobre o que deve e o que não deve ser ensinado: o governo financia livros didáticos, bolsas para pesquisa, etc. O governo em vários âmbitos tenta ser o árbitro daquilo que é e que não é científico.Felizmente, com a internet, facilita-se o combate a esse tipo de coisa. Mas, no Brasil, ainda estamos em um grande atraso.
Parabenizo mais uma vez o “Escola sem Partido” pela proposta de monitoramento via sociedade civil, e não via coerção governamental.