Depoimento de Sidney França (04.05.2019)
Em 2013, concluí uma licenciatura em História pela antiga FAFIC, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cataguases, hoje FIC/Unis. As práticas de doutrinação ideológica no ambiente educacional, sempre muito claras para mim ao longo do Ensino Médio, as experimentei em doses cavalares na referida licenciatura. Compartilho aqui, de forma resumida e direta, parte do que vivenciei no universo dito plural e inclusiva do Ensino Superior no Brasil.
Em uma avaliação pessoal, não creio que os professores que praticavam aquilo que entendemos por doutrinação — mesmo os que o faziam com maior empenho — conspirassem acintosamente num projeto sistemático de dominação ideológica. A mim parecia que apenas reproduziam ideias que receberam e aceitaram como corretas; eram mais instrumentos do que operadores consciente da Revolução Cultural Marxista, ideia estranha a muitos, especialmente aos que por ela são instrumentalizados. O que ora fazem foi pensado por ideólogos.
Vi, ao longo de todo curso, a reprodução recorrente de ideias e expressões que evidenciam a unilateralidade do discurso na educação. Dificilmente passávamos um dia sem ouvir coisas como “eurocentrismo”, “genocídio cultural”, “desconstrução”, “pluralismo”… A linguagem de um dos lados é hegemônica; e esse lado, que ironicamente arvora a todo momento as bandeiras da inclusão e do pluralismo, se empenha por manter o monopólio do discurso.
Ouvi professores dizerem, em arroubos de cólera ideológica, que no Holocausto deveriam ter morrido mais judeus; que, durante os embates originados em 64, os guerrilheiros deveriam ter vencido e fincado uma bandeira vermelha no lugar da Bandeira Nacional; que interferir em genocídios indígenas — aqueles em que bebês são enterrados vivos — é ignorância cultural. Ouvi por três vezes, de um professor na banca de avaliação da minha monografia, que Olavo de Carvalho não serve como fonte de pesquisa.
Certa vez, questionando um professor sobre suas indicações bibliográficas, por que não havia um único autor que não fosse marxista, recebi, em um malabarismo retórico tão confuso quanto evasivo, uma resposta que ainda hoje, sete anos após recebê-la, não consegui processar.
No último período, apresentei um trabalho sobre regimes e líderes totalitários. Qual foi minha surpresa, percebendo que os líderes e regimes comunistas, os mais hostis da história, eram completamente estranhos para a maioria dos alunos no último período de curso superior de História! O que mais explicaria isso, senão que no sistema educacional brasileiro opera uma espécie de esquema seletivo e ideológico, comumente chamado de doutrinação?