Depoimento de Tiago Arenhart (15.07.2016)

Me chamo Tiago Arenhart, tenho 24 anos e curso Relações Internacionais no … , em Porto Alegre – RS. Meu curso divide-se entre as ciências humanas e exatas e remeto este email para relatar minha experiência até o momento em minha instituição de ensino que é privada. Já concluí 2 (dois) semestres até agora e pretendo trancar meu curso e procurar outra instituição devido a alguns problemas enfrentados desde o inicio do curso.

No final do primeiro semestre eu já havia entrado em contato com a coordenadoria para relatar minha insatisfação parcial com algumas disciplinas que na época se limitavam principalmente à Ciência Política e atualmente as mesmas críticas se ampliaram para Teoria de Relações Internacionais e Histórias das Relações Internacionais (mas há outras disciplinas que ainda não tive, em que me foram relatados os mesmos problemas). A minha crítica era de que o entendimento ou a tentativa de compreender o sistema era singular e não pluralista e sempre do ponto de vista socialista que era passado pelo docente como uma verdade absoluta de que o sistema capitalista era escravista, opressor, concentrador de renda e liderado por uma elite branca.

Eu, particularmente, como homem branco e pobre me sinto mal com isso, pois entendo isso como uma forma de discriminação racial; e me sinto também incomodado com a limitação do conteúdo passado pelo docente que apenas apresenta a mesma forma de pensar para “explicar” o mundo e joga toda a culpa no capitalismo. Informei isto na época via email para a coordenadora, que não me deu nenhuma reposta.
Ingressando para o segundo semestre e com o impeachment aceito pelo plenário da Câmara dos Deputados as coisas tornaram-se piores.

Na disciplina de Teoria o professor com muita frequência utilizou o tempo em aula para nos “agraciar” com seu entendimento e sempre aplicando as teorias estudadas – quando possível – ao atual momento. Certa vez marquei no relógio o tempo em que sentando sobre a classe, o professor durante 35 minutos utilizou o tempo de aula para “explicar” como as organizações Globo haviam planejado um golpe contra a democracia; também como a Globo era formada por um elite que comandava o país e era a única responsável pela atual crise. Esta por incrível que pareça, é a parte “branda.

Em minha disciplina de História a qual é ministrada por uma professora assumidamente marxista – o que não é um problema, pois todos têm o direito de defender e acreditar no que quiserem – é que realmente as coisas se complicaram. A professora adota um método ensino em suas aulas, no qual todos fazemos um circulo e debatemos diversos assuntos. Até então já percebi claramente que a mesma sempre tentava persuadir os alunos de que “a história é contada pelo lado vencedor”, neste caso os EUA. Em todos os temas trazidos pela professora ela sempre culpou o capitalismo pelos males da humanidade – o que não é novidade. No final do semestre a professora pediu que apresentássemos um trabalho, sendo que cada aluno ou duplas escolhessem um tema tratado pelo historiador Eric Hobsbawn, em seu livro “A Era dos Extremos”; escolhi o tema “Socialismo Real” e o apresentei. Quando iniciei minha apresentação, a professora ficou visivelmente incomodada e me interrompeu diversas vezes afirmando que eu não estava tratando do tema do livro, quando na verdade me limitei justamente ao tema tratado pelo autor. Quando finalizei minha apresentação, a professora disse que eu havia manipulado as informações para tentar prejudicar a “imagem” do socialismo, e havia feito isso por eu ser um fascista. Foi neste momento que eu me surpreendi, pois além da professora saber claramente que defendo o liberalismo, que difere em tudo do fascismo, afirmava agora dentro da sala de aula na frente de meus colegas que era um fascista e que tínhamos um golpe de estado no Brasil. Fiquei extremamente constrangido e incomodado, mas não discuti isto em sala de aula; apenas pedi para que ela não se referisse a mim daquela forma, pois para mim é um grave insulto ser rotulado assim.

Mais tarde enviei-lhe um email pedindo para que não se deixasse levar por suas convicções ideológicas para avaliar meu trabalho. Em reposta ela me disse que o que de fato a incomodou foram minhas expressões, pois eu afirmei que “Stalin matou todos a sua volta”. Estas expressões segundo a professora não eram “academicamente corretas”. Em replica afirmei que minhas expressões não apenas eram academicamente corretas mas também respaldadas pela Constituição Feral que me permite a liberdade de expressar-me de forma livre e que o termo que ela me atribuiu é que era ofensivo e poderia se qualificar como injuria, como estabelece o Código Penal em seu artigo 140.
A partir disso fui convocado pelo NAD (Núcleo de Apoio ao Discente), no qual estavam presentes a coordenadora e uma psicopedagoga, afirmando que eu havia faltado com o respeito para com a professora e que não existia certo e errado. Sai frustrado e a partir daquele momento comecei a ser ignorado e hostilizado pela professora em sala de aula. A professora começou a apresentar um comportamento mais agressivo, não só comigo mas com alguns colegas. Então decidi enviar um email para a coordenadora pedindo uma solução. Novamente foi marcada uma data para conversarmos, porém foi inútil: tanto a coordenadora quanto a pedagoga insistiam em afirmar que as atitudes da professora estão adequadas e que não veem nada de mais nisso, pois novamente “não existe certo ou errado” pois isso seria uma construção social; a pedagoga ainda insinuou que eu apresentava problemas psicológicos.

Nunca fui tão ofendido em minha vida, principalmente dentro de uma instituição de ensino que ainda por cima é privada e pela qual pago todo mês um alto valor. Muitos colegas não levam suas queixas à coordenaria pois têm meu caso como exemplo. No final, a minha nota pelo trabalho foi apenas metade do total que do valia. Estou profundamente decepcionado com a instituição, e não vejo mais condições de continuar a pagar para ser ofendido e ter minha dignidade atacada desta forma. Estou no momento procurando outra instituição de ensino superior para que possa concluir meu curso. Não irei continuar em um local onde não se tem o mínimo respeito pelo individuo e se avalia conforme a convicção ideológica do docente. Não me sinto mais em um Estado Democrático de Direito, mas em um Estado Anárquico no qual não se respeita mais nada e nem ninguém e tudo não passa de uma “construção social” criada por uma elite branca.

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