O Lulo-petismo na prova do ENADE

Por Reinaldo Azevedo

Há muito tempo tenho combatido e apontado aqui as distorções ideológicas presentes em livros didáticos, nos vestibulares de universidades públicas — e até privadas  — e em exames oficiais feitos pelo Ministério da Educação, como o Enem por exemplo. Quem quiser ler um post a respeito pode clicar aqui. É de 2007. Mas vocês encontram dezenas de artigos no arquivo. A vigarice ideológica está em toda parte. A selvageria a que assistimos na Uniban, de que falo em posts abaixo, não acontece por acaso. O ensino universitário brasileiro foi tomado pelo expansionismo irresponsável, de baixa qualidade, alimentado, em tempos lulistas, pelo proselitismo vagabundo. Mais do que isso: existe um verdadeiro ódio à inteligência, às delicadezas do pensamento, aos matizes e, acima de tudo, à crítica.

O incentivo à intolerância com o “diferente”, com a “minoria”, parte do governo federal, em especial de Luiz Inácio Lula da Silva, a sua figura máxima. No caso dele, qual é a “minoria” que incomoda? Ora, aquela constituída pelas pessoas que não cantam as suas glórias e que não o reconhecem como o Novo Advento. Sei, como poucos, o que é isso. Há uma verdadeira tropa que vigia este blog, noite e dia, para me “lembrar” que faço parte dos, como é mesmo?, “derrotados”. Foi assim que Lula se referiu a seus críticos recentemente. Mais: comparou a organização das oposições para disputar eleições a “Hitler e os alemães perseguindo os judeus”. Como se nota, quando interessa, Lula se considera um “judeu perseguido”; quando não interessa, ele convida Ahmadinejad para bater um papinho…

Mas volto à questão da intolerância nativa. Ela chegou da maneira mais estúpida, mais vigarista, às provas do Enade, feita para alunos das universidades e que substitui o antigo provão, que era muito mais eficiente. Os exames aplicados a estudantes de Comunicação Social (cinema, editoração, jornalismo, publicidade e propaganda, radialismo e relações públicas) revelam a esquerdopatia e o governismo mais rasteiros. Pior, ao tentar disfarçar a boçalidade, o examinador acabou induzindo, tenho certeza, milhares de estudantes ao erro.

Leiam, por exemplo, a questão 19:

Quando o presidente Luiz Inácio da Silva afirmou que a crise financeira mundial era um tsunami no exterior, mas, no Brasil, seria uma marolinha, vários veículos da mídia criticaram a fala presidencial. Agora é a imprensa internacional que lembra e confirma a previsão de Lula. Considerando a realidade atual da economia, no exterior e no Brasil, é correto afirmar que houve por parte dos críticos:
a. atitude preconceituosa
b. irresponsabilidade
c. livre exercício da critica
d. manipulação política da mídia
e. prejulgamento

A formulação pode ser desmontada da primeira à última palavra, e seus autores ou são analfabetos em economia — e jornalismo — ou são meros prosélitos do governismo atuando numa prova que é aplicada pelo ESTADO brasileiro, não pelo governo. Mas deixo agora isso pra lá, observando, à margem, que a prova incorpora a linguagem dos canalhas que chamam “imprensa” de “mídia”, palavra que, na boca deles, virou sinônimo de conspiração.

Como é que Fernando Haddad, ministro da Educação, defenderia a prova? A partir da alternativa dada como correta. A manipulação, com essa gente, vai assumindo o estado de arte. A alternativa considerada boa é a “C”. Sim, os críticos estariam apenas exercendo o “livre exercício da crítica”… Ora, dada a permanente atuação de Lula no ataque à imprensa, dados os termos da formulação da questão, dada a afirmação peremptória de que Lula estava certo (O QUE É, DE RESTO, MENTIRA!!!), o estudante estará, à sua maneira, “certo” pouco importa a alternativa errada que escolha. PORQUE TODAS ELAS ESTÃO ERRADAS!

Está errada mesmo a alternativa “C”? Sim!!! Ninguém discorda do que diz Lula só porque, afinal de contas, o “exercício da crítica é livre”. Numa democracia, discorda-se do governo quando se discorda do governo, entenderam? Ademais, que história é essa de “é a imprensa internacional que lembra e confirma a previsão de Lula?” Houve, sim, quem o fizesse, aqui e lá fora, e isso não quer dizer que os que pensam com ele tenham necessariamente razão. O que é dado como consumado é mera questão de opinião. Quem quiser saber mais a respeito deve indagar, por exemplo, à Receita Federal, que teve uma queda brutal de arrecadação. Ou verificar o que aconteceu com o crescimento do Brasil, que desabou de algo em torno de 6% para, talvez, pouco mais de 1%. A má fé é tal que o jornalismo estrangeiro é chamado “imprensa”, mas o brasileiro, de “mídia”. A pergunta 19 deve ter sido formulada por Franklin Martins…

Não é a única questão em que os ecos do governismo chegam de forma vexaminosa. Duas delas (íntegra da prova aqui), acreditem, cantam as glórias do próprio Ministério da Educação. Outras tantas não medem conhecimento; antes, procuram investigar se o aluno é uma pessoa que, como é mesmo?, pensa no “bem comum” ou é um desses alienados, sabem?, egoístas, que resistem a se ajoelhar no milho do politicamente correto. É uma prova em que há questões que testam mais alinhamento ideológico do que conhecimento propriamente.

É evidente que, numa democracia normal, o Ministério Público entraria em campo já nesta segunda para, no mínimo, anular a questão 19 —  o certo seria recorrer contra todas as  que servem à propaganda oficialista. Mas nada vai acontecer.

Acreditem: há vasos comunicantes entre a prova do Enade e a tentativa de linchamento, crime que continuará impune, na Uniban — que puniu a vítima. Todos eles, os potenciais linchadores e estupradores e o governo, agem na certeza de que, quando se é ou se tem maioria, tudo é lhes é permitido. Tal prática, por óbvio, pode até definir o fascismo, mas jamais definirá jamais a democracia.

Qual é a chance de o Ministério da Educação se interessar, de fato, pelo caso Geisy? Pequenas. Está muito ocupado praticando proselitismo vagabundo.

Publicado no blog do autor em 9 de novembro de 2009.

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